O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discordou nesta sexta-feira (8) ter apoiado a decisão do governo de Hugo Chávez, da Venezuela, de não renovar a concessão à Rádio Caracas de Televisão (RCTV), cuja programação deixou de ser emitida em maio, depois de 56 anos no ar. Ao ser abordado sobre a alegação da RCTV de que o governo ignorou o contrato que previa a extensão de sua concessão até 2022, o presidente não poupou o companheiro Chávez e indicou que ele terá sido arbitrário, se tal versão for confirmada.
"Se você me perguntar: o Chávez cometeu um delito? Se venceu a concessão de uma coisa qualquer, seja de um ponto de táxi ou de uma televisão, o concedente tem direito de renovar ou não. Isso é tão legítimo quanto conceder", sustentou. "Se não venceu, é arbitrariedade", completou, com o cuidado de sublinhar que "é preciso saber o que diz a Constituição do Chávez", o texto promulgado em 2002.
Conforme destacou, no Brasil, há regras claras sobre o assunto. Bem-humorado, Lula disse que, na entrevista exclusiva que concedera à Folha de S. Paulo ontem, não havia apoiado a iniciativa de Chávez. "Eu não apoiei o Chávez nem no primeiro dia, nem ontem, nem hoje. A única coisa que defendo é que aquilo é um problema da Venezuela", afirmou. "Cada país toma conta do seu nariz.
Na entrevista, publicada hoje, Lula permitiu-se responder o que "faria no Brasil". Insistiu que o "mesmo Estado que dá uma concessão" pode retirá-la e, no caso da Venezuela, Chávez somente "teria praticado uma violência" se tivesse optado pela intervenção na RCTV depois do fracasso da tentativa de golpe de Estado, em 2002. "No Brasil vencem concessões sempre, que passam pelo Senado para que haja renovação. Nos Estados Unidos, há concessões. Algumas são renovadas. Vai da visão que cada presidente tem da situação", afirmara na ocasião.