Em discurso hoje na base militar brasileira no Haiti, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao Banco Mundial e a outros credores que perdoem a dívida de US$ 1,3 bilhão que o Haiti deve a estes órgão. “Nós precisamos fazer gestão junto aos credores: anistiem a dívida de US$ 1,3 bilhão do Haiti. É preciso que o Fundo Monetário e o Banco Mundial anistiem essa dívida do Haiti”, disse. E completou: “O perdão da dívida não vai resolver as necessidades do Haiti, mas vai permitir que o Haiti esteja credenciado a começar a estabelecer novas linhas de crédito junto ao sistema financeiro internacional”.
Lula disse que na reunião da União de Nações sul-americanas (Unasul), em Cancun, na manhã de terça-feira, ficou acertada uma doação ao Haiti de US$ 300 milhões. Desse total, caberá ao Brasil a doação de US$ 100 milhões. Lula explicou que o dinheiro será repassado para o Haiti para que o governo decida onde, como e quando aplicar para recuperar o seu país.
“Nós nos subordinaremos ao governo do Haiti”, afirmou. “Não é sair do Brasil e vir aqui fazer do jeito que nós quisermos. Esse país tem governo legitimamente eleito pelo voto popular e toda ajuda do Brasil será via governo do Haiti”, declarou.
Lula reafirmou também ao presidente do Haiti, René Préval, que o governo brasileiro está disposto a fazer tudo que estiver alcance para ajudar o país. Também ressaltou a necessidade de fortalecer o governo haitiano. “É importante que a gente, neste momento, fortaleça o governo do Haiti. É através do governo que temos de fazer política de solidariedade”, afirmou.
O presidente relatou que René Préval disse que o principal, no momento, é recolher os escombros do terremoto, de preferência pelas vilas, e fazer acampamento no local. Segundo Lula, a ideia de Préval é fazer pequenos acampamentos, e não grandes, nos locais onde as populações já viviam. Para isso, disse Lula, é preciso que se defina o tipo e o número de máquinas que serão necessárias para começar este trabalho de retirada escombros. Reiterou que tudo será coordenado pelo governo do Haiti e pela missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, liderada pelo Brasil. “É trabalho de curto, médio e longo prazo. O povo Haiti sabe que vai demorar, mas é preciso fazer de forma mais segura e mais estável do que era feito antes.”
O presidente René Préval agradeceu o apoio reafirmado por Lula, fez um relato das dificuldades, e disse que é preciso “refundar” o Haiti”. Justificou que pediu para que sejam feitos pequenos acampamentos – e não grandes – porque, segundo ele, a população prefere ficar nos seus bairros “onde tinham suas vidas”.
Durante o encontro, os presidentes Lula e René Préval assinaram um acordo de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Por esse acordo, os ministérios brasileiros do Desenvolvimento Agrário e o de Combate à Fome se comprometem a comprar alimentos produzidos pelos pequenos produtores haitianos. O próprio presidente Lula, após a assinatura do acordo, explicou que a estratégia de comprar alimentos dos haitianos – em vez de mandar alimentos para aquele país – funcionaria como uma forma de dar emprego a eles.
O acordo foi assinado na base militar brasileira no Haiti. Também foram assinados acordos de construção de cisternas, recuperação da educação superior e formação profissional, entre outros. Os dois presidentes devem ainda assistir a uma formatura das tropas brasileiras no Haiti. Ao todo, 1.266 homens das Forças Armadas estão no primeiro batalhão. Outros 400 chegaram há duas semanas para o segundo Batalhão, que terá outros 1,2 mil homens ao todo.