O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcará hoje em Teerã num momento especialmente delicado não apenas para as relações do regime iraniano com o mundo, mas também para o contexto interno. A oposição promete novamente tomar as ruas, como fez em junho, quando denunciou fraude nas eleições. Em exatamente um mês, os distúrbios provocados pela oposição para contestar a controvertida vitória eleitoral do presidente Mahmoud Ahmadinejad completarão um ano. Agora, a um mês do aniversário dos protestos, Teerã já estaria adotando medidas de segurança para reprimir novas manifestações.
Mir Hossein Moussavi, candidato derrotado por Ahmadinejad e líder do chamado “movimento verde”, de oposição, denunciou na semana passada a execução de cinco curdos acusados de conduzir atividades “contrarrevolucionárias” e “guerra contra Deus”, cuja pena é o enforcamento. Em seu site, Mousavi afirmou que as execuções buscam intimidar o movimento opositor. “A Justiça esteve a serviço dos opressores”, criticou. Segundo a ONG de direitos humanos Anistia Internacional, três dos acusados “foram torturados”.
Também na semana passada um repórter iraniano-canadense da revista Newsweek, Maziar Bahari, foi condenado em ausência a 13 anos de prisão e 73 chibatadas. Bahari foi preso no ano passado e, após sua libertação, refugiou-se em Londres.
O site iraniano Kaleme, ligado à oposição, noticiou que opositores estão sendo intimados por cortes locais. O grau de mobilização por parte do governo islâmico seria tal, que dois canais estatais de TV passaram a transmitir um novo seriado, no qual agentes de inteligência montam um poderoso aparato de vigilância para conter “inimigos internos” do Irã. Novamente, o objetivo seria fazer com que manifestantes desistam de sair às ruas para protestar.
Olhando em retrospecto, a cientista política iraniana Fariba Abdelkhah afirma que a força do “movimento verde”, na época dos grandes protestos contra o regime, vinha exatamente de sua capacidade de congregar os diversos setores e gerações da sociedade iraniana. “Mas esse foi também seu ponto fraco”, disse. “Um movimento tão vasto dificilmente comporta apenas um líder, no caso Mousavi. E ele não é capaz de estabelecer uma agenda clara de ação para o futuro.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.