Depois de sofrer impeachment e ser destituído da Presidência do Paraguai, o ex-bispo Fernando Lugo recorreu à internet e às redes sociais para fazer ouvir sua voz e chamar a resistência popular contra o político liberal Federico Franco.
“Paraguay Resiste” é o nome do site criado para divulgar a postura do ex-presidente, que foi destituído no último dia 22 por um julgamento político no Legislativo, mas dois dias depois decidiu desacatar a decisão parlamentar e convocou a resistência “pacífica” para recuperar o poder.
O portal permite aos internautas conhecer as reivindicações e as próximas atividades de Lugo. Inclui fotografias, vídeos e áudios das declarações do ex-presidente, assim como demonstrações de apoio internacional, e oferece aos usuários a possibilidade de modelar suas opiniões e mensagens.
“O Paraguai é vítima de uma nova tendência golpista”, “Resistência civil no Paraguai se projeta nos departamentos” e “Aumenta pressão popular para que o golpista Franco deixe o poder” são algumas das manchetes de artigos que também podem ser lidos no portal.
A página convoca uma manifestação sob o lema “Não ao golpe no Paraguai, por uma América Latina unida e democrática” para esta quinta-feira, em frente à embaixada da Argentina em Assunção – a presidente argentina, Cristiana Kirchner, foi a primeira líder internacional a condenar a destituição de Lugo e disse que não irá legitimar o que chamou de “golpe de Estado”.
Segundo um relatório publicado em junho pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Paraguai ocupa uma da posições mais baixas dentro do ranking global de conexão à internet, com menos de uma ou duas linhas de banda larga para cada 100 habitantes. Mesmo assim, o objetivo da propaganda a favor de Lugo aponta em grande medida a comunidade internacional.
No Facebook, há vários perfis, um como presidente e outros privados, com o nome de Fernando Lugo ou Fernando Lugo Méndez, e milhares de seguidores comentam a crise paraguaia e oferecem apoio ao ex-líder.
O mesmo acontece no Twitter. Na conta com seu nome, as declarações e atividades de Lugo, que desde esta segunda-feira localizou seu “quartel-general” na modesta sede do Partido País Solidário, membro da coligação esquerdista Frente Guasu, no centro de Assunção.
Enquanto tenta mobilizar seus simpatizantes, Lugo reitera sua mensagem em sucessivas entrevistas “exclusivas” à imprensa, como a concedida à emissora “Telesur”, através da qual anunciou nesta terça-feira um percurso pelo Paraguai para explicar a seu povo o que “realmente” ocorreu.
Lugo mantém lealdade de alguns ex-ministros e colaboradores, e afirma que o Paraguai “não está tranquilo” como diz o novo presidente, Federico Franco, embora o empresariado, a imprensa, a Igreja Católica e os cidadãos, em geral, aceitaram o revezamento de poder.
Há, sobretudo entre os setores profissionais e poderosos, muitos que admitem à imprensa sua preocupação sobre a mudança de postura de Lugo – que antes acatou o impeachment, mas depois passou a repudiá-lo – e o apoio internacional que colheu, e outros menos favorecidos que expressam resignação, quando não indiferença, pela crise no país.
E a cada dia, cerca de 300 pessoas – principalmente estudantes, idosos e camponeses – se manifestaram em frente à sede da “TV Pública”, criada em 2011 pelo governo Lugo, que durante horas lhe dá voz por alguns minutos através do programa “Micrófono Abierto” (Microfone Aberto).
Desde segunda-feira, os seguidores de Franco também tiveram espaço nesse programa, que se deslocou às praças em frente ao Legislativo para abrir o microfone a dezenas de pessoas congregadas que apoiam o novo Executivo.
