Às vezes fico me indagando quanto à natureza humana, e as grandes bobagens que cometemos por conta dela. Neste duplo, corpo e espírito, nem sempre conseguimos controlar nossos impulsos primitivos, nos deixando levar por conta de nossa natureza animal. Quando dominado por ela, raras são as vezes que conseguimos acertar.
Não entendo a juventude de hoje. É completamente diferente da minha.
Hoje essa tal de droga tomou conta de suas mentes e vontades, transformando-os num amontoado de carne sem ambição, sem vontade de lutar, sem desejo de vencer. Passam apenas pela história, não querem fazer parte dela. Sofrem os dois lados, eles e seus pais. Lembro-me de forma amarga e angustiante, às vezes que pais chegavam na delegacia, clamando por ajuda, e eu, sem ter como lhes reconfortar o coração não tinha alternativa, além dos remédios penais ofertados pela lei, que sem sombra de dúvidas não resolvia o problema. O cotidiano mostra cadeias lotadas de doentes, que mais tarde se transformam em marginais perigosos, sendo que muitos morrem, sempre de forma tão violenta, quanto os efeitos que a dependência lhes causou.
Cansei de passar noites e noites em claro, tentando achar um meio-termo, entre o conflito humano de necessidades e desejos, amparando meu pensamento em Deus, na busca de uma solução, mas nunca consegui achar uma resposta totalmente satisfatória. De certo é que no futuro, não haverá mais anciões e os poucos que restarem serão considerados sábios, porque conseguiram chegar a tão longínqua idade e sadios. Por conta de que todos os jovens morreram em tenra idade, consumidos pelas drogas, que gera doenças perversas e cruéis, e violência desumana, e os poucos que sobrarem serão zumbis de cérebro cozido, como matéria sem vida e inanimada. Peste que corrói e corrompe o sistema, mais eficiente que a própria lei. Pois atinge indiscriminadamente, todos os segmentos da sociedade, desde crianças a velhos; pretos, brancos e amarelos; homens e mulheres; ricos ou pobres; muçulmanos, cristãos, judeus ou sem fé.
Experiências realizadas na Holanda mostram que sua liberação sob a vigilância do Estado é ineficaz, e geram grande corrupção. Sua total proibição traz a curiosidade, e o desafio ao proibido. Sem esquecer de acrescentar a ridícula auto-afirmação que os jovens enfrentam, em seus grupos de convívio. Mas o que lhes falta?
Talvez falte mais família, quem sabe mais sabe mais diálogo, ou até a presença mais imediata do Estado nos dois extremos. Pressão legal e policial contra o traficante e ajuda médica, psicológica e psiquátrica ao viciado? Talvez mais fé, amor próprio, respeito, tolerância e partilha no coração dos homens? Pressão socioeconômica? Quem sabe? O tráfico, cada vez mais organizado, cria seus exércitos, infiltrando-os no aparato do próprio Estado. Enfraquecendo assim o sistema, deixando o cidadão desguarnecido de ajuda, e confuso com as atribuições estatais; já que é obrigação do próprio Estado, cuidar da parte que lhe delegamos de nossa liberdade, para compor a nação. Mas sobre seu manto se esconde algo muito pior, maior e internacional, “o capital selvagem”. Já que um mau, sempre esta acompanhado de outro muito pior. Capital maldito, que alimenta guerras, tingido com o sangue dos inocentes, cheio de lágrimas de dor e morte.
Os barões da droga, não a consomem, mas vivem em função dela, aliciando seu vultuoso exército entre os filhos e filhas da mola propulsora da sociedade: “a família”, célula una indivisível e que dividida extingue a própria humanidade.
A única certeza que tenho, é que falta mais vergonha na cara e coragem da sociedade em assumir tal problema de forma destemida e determinada, sem hipocrisia e travar combate ininterrupto, a exaustão, contra um mau tão terrível, já que o futuro depende do que fazemos no presente. A qualidade dele será o legado que deixaremos aos nossos filhos e netos, e eles serão nossos porta-vozes, daquilo de bom ou ruim que fizemos. Não seria este, o verdadeiro apocalipse da humanidade? E o tal do Lúcifer, se veste de branco?
Adolfo Rosevics Filho
é investigador de polícia 1.ª classe e Acadêmico de Direito.