Este é um período insone do ano, carregado de apreensão. Exames finais, fechamento de notas, vestibulares. A preparação das férias é a ante-sala da alegria, precedida pelo corredor de um ambulatório médico. Preparam-se professores e alunos para o ritual da passagem de ano (no calendário e na atividade escolar). Enquanto uns vêem-se confrontados com justiça e julgamento, outros se debruçam sobre a memória de erros e acertos. O encontro desses dois atores educacionais pode resultar ou na permanência do regime de tratamento, ou na entrada nos aposentos da alegria.
Aprender é passar das águas turvas da ignorância não apenas cognitiva – para as ?margens da alegria? da consciência individual e social, aproveitando a bela metáfora de Guimarães Rosa.
Por maior que seja o descaso com a educação, com a qualidade do ensino e com os (d)efeitos da aprendizagem nos alunos, uma verdade se impõe. O País e a paz que queremos para 2006 estão sendo preparados, ou não, no ano prestes a terminar: 2006 será o que pudemos construir até este momento.
A boa notícia trazida pelos reis magros da economia brasileira (a que não ocupa os centros financeiros mas freqüenta a ?periferia do capitalismo?, na feliz expressão de Roberto Schwartz), refere-se à diminuição da escandalosa disparidade social causada pela diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres. Uma das causas dessa boa notícia é a democratização do ensino. Por mais deficitária que seja, a oportunidade de freqüentar a escola modifica o indivíduo, além de permitir que ele tenha acesso, pouco a pouco, à melhor capacitação para o trabalho e melhores condições intelectuais de formação profissional.
Cada vez mais freqüentes são as notícias de bem-sucedidas experiências de inclusão social, que passam sempre pelo acesso à escola e à educação. Não é suficiente, no entanto, o estar na escola. É imperioso agir a escola. Fazer acontecer, atuar, dinamizar. Esse trabalho tem seus custos, físicos, psíquicos, sociais, interacionais. O esforço pessoal, o investimento intelectual, a persistência no trabalho, aliados à crença na importância da ação educativa e formadora completam a soma ideal que constitui a função social da escola e de seus estudantes e, por extensão, sua capacidade de melhorar o País.
Há um fragmento belíssimo e comovente no romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, que narra a formação escolar da professora Madalena que, numa sociedade patriarcal, atrasada e latifundiária, via-se acossada por todo tipo de dificuldade para estudar. Retorno à frase inicial: o texto também trata de um tempo insone e de tensão. Reproduzo: ?Escrevia tanto que os dedos adormeciam. Letras miudinhas, para economizar papel. Nas vésperas dos exames dormia duas, três horas por noite. Não tinha proteção, compreende? Além de tudo a nossa casa na Levada era úmida e fria. No inverno levava os livros para a cozinha. Podia visitar igrejas? Estudar sempre, sempre, com medo das reprovações.?
O esforço extraordinário, contra várias formas de dificuldades, lhe deu lucidez e destaque em sua pequena comunidade. A escrita a distinguiu, redimiu e elevou.
Também pela escrita, o protagonista de São Bernardo, Paulo Honório, tenta redimir-se, expiando seus erros. Num dos mais emocionantes desfechos do romance brasileiro, o narrador trata de sua solidão e arrependimento: ?Com um estremecimento, largo essa felicidade que não é minha e encontro-me aqui em São Bernardo, escrevendo. (…) Levanto, procuro uma vela, que a luz vai apagar-se. Não tenho sono. Deitar-me, rolar no colchão até a madrugada, é uma tortura. Prefiro ficar sentado, concluindo isto. Amanhã não terei com o que me entreter.(…) De longe em longe sento-me fatigado e escrevo uma linha. Digo em voz baixa: – Estraguei minha vida, estraguei-a estupidamente.?
O papel do estudo aliado à linguagem é fundamental para a sobrevivência física, individual e social. O poder da linguagem como fator de sobrevivência merece ser exemplificado num dos momentos preciosos de Os livros e os dias, de Alberto Manguel, em que relata: ?Li em algum lugar que o rei Frederico II tentou empreender uma experiência (…) sobre a natureza da linguagem. Com o intuito de descobrir qual era nossa linguagem ?original?, ele ordenou que um número específico de recém-nascidos ficasse aos cuidados de babás que eram proibidas de falar com eles; desse modo o rei imaginava que poderia ouvir as primeiras palavras pronunciadas ?naturalmente?, sem ter sido ensinadas. A experiência fracassou porque nenhum dos bebês sobreviveu. Ao que parece, precisamos tanto da linguagem como de comida para sobreviver.?
Falar, escrever, existir. Apesar desses argumentos, ainda temos de calar ante o discurso de homens de pouca fé na defesa da idéia de que financistas e estadistas, donos da guerra, são mais importantes que os verdadeiros educadores. Por quê?
O ensino religioso, desafios e contemporaneidade
Barbara Raquel do Prado Gimenez Corrêa e Valmir Biaca
A disciplina do Ensino Religioso, instituída pela LDB 9394/96 art. 33 (nova redação LDB 9475/97), pretende refletir a respeito das diferentes manifestações do sagrado na esfera social, suas implicações humanas e de relações entre os indivíduos e assim contribuir para a formação integral do educando, como aponta a LDB 9394/96 em seu art. 32.
Propiciar na sala de aula a oportunidade de discussão e reflexão dos alunos, sobre a identificação, o entendimento, o conhecimento e a aprendizagem em relação as diferentes manifestações do sagrado na sociedade, favorece a amplitude e fomenta o respeito e reconhecimento à diversidade cultural, repudiando o preconceito e discriminações diante das especificidades de diferentes expressões cultural-religiosas, cuja manifestação é direito constitucional de todo cidadão brasileiro. Portanto, a disciplina do ensino religioso, tendo o sagrado e suas diferentes manifestações no coletivo como objeto de estudo, relaciona-se com os diferentes fenômenos religiosos existentes e se contextualiza no universo cultural dos indivíduos.
Para que essa disciplina se constitua no espaço escolar, é necessário que o professor garanta alguns pressupostos básicos inerentes a ela, tais como:
– Articulação do ensino religioso no projeto político-pedagógico da escola;
– Respeito do professor e demais membros da comunidade escolar às diferentes expressões religiosas dos alunos;
– Reconhecer a linguagem pedagógica como a linguagem própria da escola;
– Oportunizar o conhecimento, a discussão, a reflexão diante dos fenômenos religiosos sociais da comunidade;
– Garantir liberdade de expressão;
– Tratar as diferentes manifestações do sagrado como patrimônio cultural;
– Compreender a função social da escola e a mediação entre o conhecimento científico construído pela humanidade.
O professor possui elementos técnico-científicos oriundos de sua formação inicial e/ou continuada. Diante disso, precisa considerar, em seu planejamento na disciplina do ensino religioso, os anseios da comunidade onde está inserida a escola, as reais necessidades de seus alunos diante do objeto de estudo da disciplina (o sagrado), as bases teóricas, a seleção de fontes, bem como a organização dos conteúdos no currículo escolar expressos no projeto político-pedagógico. Dessa forma, caminhará em direção da formação cidadã e da conscientização ante a necessidade atual de superação de toda a barbárie.
O ensino religioso é área de conhecimento?
Sérgio Junqueira
O ensino religioso é uma das dez áreas de conhecimento definidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais aprovadas em 1998 pelo Conselho Nacional de Educação. A Diretriz n.°4 afirma que:
?IV – Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade de acesso para alunos a uma Base Nacional Comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional, a Base Nacional Comum e sua Parte Diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise estabelecer a relação entre a Educação Fundamental e: A) Vida Cidadã através da articulação entre vários dos seus aspectos como: a Saúde, a Sexualidade, a Vida Familiar e Social, o Meio Ambiente, o Trabalho, a Ciência e a Tecnologia, a Cultura as Linguagens; B) as Áreas de Conhecimento: Língua Portuguesa, Língua Materna (para populações indígenas e migrantes), Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística, Educação Física e Educação Religiosa (na forma do art. 33 da LDB) [Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental/ CNE]?.
As áreas do conhecimento são marcos estruturados de leitura e interpretação da realidade, essenciais para garantir a possibilidade de participação do cidadão na sociedade de forma autônoma. Cada uma das dez áreas contribui para que os estudantes compreendam a sociedade em que vivem e possam interferir no Espaço e História que ocupam, pois uma das preocupações da Educação Básica é a formação do cidadão e que os estudos as crianças e adolescente realizam contribuam para sua formação, tanto para trabalhadores quanto para cidadãos. Constitui, portanto, numa relação do presente, re-leitura do passado e na construção de um futuro.
