Irritado com a ameaça da Autoridade Palestina (AP) de criar unilateralmente um Estado na Cisjordânia, o chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, acusou o grupo do presidente Mahmoud Abbas de levar a cabo um “feio jogo duplo”. Segundo Lieberman, a AP solicitou a Israel que “derrotasse o Hamas”, inimigo comum, durante a ofensiva de janeiro na Faixa de Gaza.
“Qualquer medida unilateral terá uma reação unilateral da nossa parte”, afirmou Lieberman, em depoimento à Knesset (Parlamento). O ministro Gilad Erdan, do Meio Ambiente, também disse que Israel poderá anexar – de maneira definitiva e unilateral – partes da Cisjordânia onde há colonos.
Também ontem, a AP pediu formalmente à União Europeia (UE) apoio no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) para formar um Estado palestino mesmo sem o consentimento de Israel. “Buscaremos o aval de todos os membros da comunidade internacional”, disse Saeb Erekat, um dos principais negociadores do grupo de Abbas. A AP também solicitará o apoio dos Estados Unidos, completou Erekat.
Especula-se, porém, que a estratégia palestina tem, sobretudo, valor simbólico, pois Washington provavelmente fará uso de seu poder de veto no CS para barrar qualquer declaração unilateral. Ontem, o Departamento de Estado voltou a afirmar que o diálogo é a “melhor forma” de resolver o conflito. Paris e Londres também dificilmente concordarão em alienar Israel do processo de negociação.
Concretamente, a decisão da AP de radicalizar o discurso teria dois objetivos. De um lado, pressionar o governo direitista de Binyamin “Bibi” Netanyahu, que já demonstrou que não pretende abrir mão da expansão de assentamentos na Cisjordânia. De outro, exibir autonomia em relação a Israel e compromisso com a resistência diante do eleitorado palestino.