O presidente de facto da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, ordenou que os militares parem e revistem os veículos da Organização das Nações Unidas (ONU), em mais uma medida de hostilidade entre o homem que se recusa a deixar o poder e a organização mundial que afirma que o rival dele foi o vencedor da eleição presidencial. “Isto é apenas mais uma forma de perseguição”, disse hoje a porta-voz da ONU Corinne Momal-Vanian, em Genebra.
A medida foi tomada após uma série de ataques contra veículos e soldados da ONU no volátil país do oeste africano. Na semana passada, pessoas e forças de segurança aliadas a Gbagbo atacaram pelo menos seis veículos da ONU, ateando fogo a alguns deles e deixando dois feridos.
Funcionários locais da ONU não acataram a ordem e disseram que as leis internacionais dão a eles liberdade de movimento. “Nós esperamos que esta liberdade seja respeitada”, disse o porta-voz da missão na Costa do Marfim, Hamadoun Toure. Ele não disse, porém, o que os funcionários da organização farão se seus veículos forem parados pelas forças de segurança.
A ordem para a revista de veículos da ONU foi anunciada pelo coronel Hilaire Gohourou na televisão estatal na noite de ontem. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou a violência contra os funcionários da ONU e disse que ela constitui crime perante as leis internacionais.
O governo de Gbagbo já tentou mandar as tropas da ONU para fora do país, afirmando que elas não são imparciais, depois de o organismo ter certificado o resultado que mostra que Alassane Ouattara venceu o segundo turno da eleição presidencial, realizado em 28 de novembro.
A agência da ONU para refugiados também pediu hoje que os países vizinhos permitam que os refugiados marfinenses permaneçam em seus territórios. Dezenas de milhares de pessoas fugiram para a Libéria, enquanto outros seguiram para a Guiné, Gana, Mali e Burkina Faso.
Gbagbo continua a ocupar o palácio presidencial enquanto o presidente reconhecido pela comunidade internacional é forçado a viver sitiado no interior de um hotel. Ouattara é protegido por uma guarda de 800 soldados da ONU, que transformaram o hotel Golf num forte cercado de arame farpado.
Os países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas, na sigla em inglês) ameaçam depor Gbagbo pela força se as negociações fracassarem, mas não estabeleceram uma data para a intervenção. As informações são da Associated Press.