O Ministério das Relações Exteriores holandês informou que o líder oposicionista do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, se refugiou na embaixada da Holanda em Harare. Nesta segunda-feira (23) a polícia local realizou uma operação em escritórios da oposição e prendeu cerca de 60 pessoas, segundo um porta-voz do partido. Líder do Movimento para a Mudança Democrática (MMD), Tsvangirai desistiu ontem da disputa pela presidência no país. Ele alegou que não era possível ocorrer uma eleição justa e livre em meio ao clima de violência.
Tsvangirai enfrentaria na próxima sexta-feira (27) no segundo turno o atual presidente zimbabuano, Robert Mugabe, há 28 anos no poder. O governo já informou que a eleição ocorrerá normalmente no dia previsto.
Segundo um porta-voz do MMD, Nelson Chamisa, foram detidas crianças e mulheres na operação policial. Várias pessoas se refugiaram em instalações do partido oposicionista, por medo da violência. Foram levados também móveis e computadores, segundo Chamisa. A polícia ainda não havia se pronunciado sobre o caso.
Roy Bennett, alto membro do MMD, disse esperar que uma disputa justa ocorra com o apoio de líderes africanos. Bennett, tesoureiro da sigla, pediu à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e à União Africana que negociem a formação de um governo de transição.
O MMD está disposto a formar um governo com membros moderados do partido da situação, o ZANU-PF, porém sem a participação de Mugabe. "Mesmo em um governo de transição, nós não vemos nenhum espaço para ele", disse Bennett.
Críticas
O ministro britânico para África e Ásia, Mark Malloch-Brown, fez nesta segunda duras críticas a Mugabe. Para ele, o presidente do Zimbábue não tem mais legitimidade. "Nós não aceitamos o status quo", afirmou Malloch-Brown. "Nós não esperamos que a comunidade internacional aceite o status quo", avaliou. O ministro da Grã-Bretanha completou dizendo que "Mugabe não é mais o legítimo líder desse país".
O chefe da política externa da União Européia, Javier Solana, condenou o "nível inaceitável de violência" e intimidação no Zimbábue. Solana afirmou que o pleito se transformou em uma "caricatura de democracia", além de definir como "compreensível" a desistência de Tsvangirai.
O primeiro-ministro da Austrália, Kevin Rudd, também pediu sanções internacionais ao Zimbábue. O governo australiano já impõe restrições ao país, porém anunciou que pode ampliá-las e exortou outros países a fazerem o mesmo.
Antes do primeiro turno de 29 de março a campanha foi realizada em geral de forma pacífica. Porém depois disso cresceu a violência e a intimidação, especialmente nas zonas rurais. Grupos independentes de direitos humanos afirmam que pelo menos 85 pessoas morreram e dezenas de milhares tiveram que deixar suas casas. A maioria das vítimas era formada por partidários da oposição.