Todos os anos, em meados de novembro, a Terra mergulha em um rio de poeira interplanetária, restos das partículas deixadas pelo cometa Tempel-Tuttle em sua trajetória ao redor do Sol. Durante algumas horas, a maior parte destas partículas choca-se com a atmosfera superior da Terra a velocidade de 71 quilômetros por segundo.

Na mesma noite será visível um eclipse penumbral que terá início às 20h32min do dia 19 de novembro e terminará 01h01min do dia 20 de novembro. O máximo do eclipse será às 22h47min, quando os observadores serão capazes de contemplar um ligeiro e distinto escurecimento atravessando a região norte do disco lunar. As belas colorações avermelhadas dos eclipses totais estão ausentes. Só no próximo ano de 2003, teremos eclipses totais da Lua visíveis no Brasil.

O melhor conselho pode ser resumido no seguinte: se as condições de visibilidade forem boas, convém tentar observar o céu durante várias noites antes e depois do máximo teórico previsto, que se situa entre as noites de 17 a 19 de novembro. Aliás, o mesmo procedimento deve ser adotado em relação às outras chuvas de meteoros que ocorrem ao longo do ano.

Histórico sobre os Leonídeos:

Além de ser inquestionavelmente a mais importante chuva de meteoros, os Leonídeos foram o primeiro enxame meteórico observado e descrito de modo científico, em 11 de novembro de 1779, no Caribe, pelo cientista alemão Alexander Humboldt (1769-1859), no quarto volume de sua obra Voyage aux Régions équinoxiales du Nouveau Continent (1816). Foi Humboldt quem constatou, pela primeira vez, que as estrelas cadentes de um mesmo enxame pareciam se originar de um único ponto, mais tarde, em 1867, denominado radiante pelo meteorologista inglês R.P. Cregg.

Na aparição seguinte, em 12 de novembro de 1833, os Leonídeos se apresentaram de modo notável. Em Boston, os lampejos ou clarões foram tão luminosos e freqüentes que despertaram o povo no interior de suas casas provocando terror. Um bólido pareceu ter as dimensões da Lua. Nessa noite dizia-se que “as estrelas caíram sobre Alabama”, quando a taxa máxima registrada foi de 35.000 meteoros por hora.

Até esta época, acreditava-se ainda que a chuva de estrelas cadentes fosse um fenômeno, com origem na atmosfera terrestre, quando o professor de filosofia natural norte-americano, Denison Olmsted (1791-1859), após assistir os Leonídeos, analisou vários relatos sobre o evento de 1833, em uma série de artigos no American Journal of Science and Arts, fundando a ciência dos meteoros. Ele assinalou que o radiante, situado na constelação do Leão, se deslocava com as estrelas. Na Alemanha, essa reobservação espetacular dos Leonídeos estimulou um maior interesse pelo estudo científico dos meteoros, quando o astrônomo Heinrich Olbers (1758-1850), em 1837, sugeriu a existência de um período de 33 ou 34 anos, ao fim dos quais havia uma reincidência das chuvas de meteoros.

Ao tentar estabelecer, em 1837, o primeiro catálogo das mais notáveis aparições de estrelas cadentes, o astrônomo belga A. Quetelet (1796-1874) descobriu que as tradicionais “Lágrimas de São Lourenço”, ou Perseídeos de agosto, eram um fenômeno periódico. Nessa mesma época o astrônomo alemão G. A. Erman, com base na idéia de que tais eventos só poderiam ser provenientes de partículas que a Terra em seu movimento ao redor do Sol encontrasse ocasionalmente no caminho, sugeriu a existência de um anel de meteoros e calculou os primeiros elementos orbitais de um enxame meteórico.

Em 1864, o astrônomo norte-americano Hubert A. Newton, do Yale College de Princeton, ao estudar as chuvas de meteoros, encontrou registros históricos que mostravam terem os Leonídeos sido registrados desde o ano 902, sendo que algumas excepcionais aparições teriam ocorrido em 934, 1002, 1101, 1202, 1366, 1533, 1602, 1698, 1799 e 1833. Newton propôs que esses espetáculos eram causados por uma densa nuvem de partículas meteoroidais que a Terra atravessava em intervalos de 33 anos. Assim, Newton previu uma chuva de meteoros em 1866, no que foi aprovado por Olbers. De fato, na noite de 13 para 14 de novembro de 1866, ocorreu uma espetacular chuva de estrelas cadentes. No instante de máxima atividade, os Leonídeos atingiram uma taxa de 120 meteoros por minuto ou seja, cerca de 7 200 por hora. No fim desse mesmo ano, o astrônomo italiano Giovanni Virgílio Schiaparelli (1835-1910), em Milão, anunciou que os Leonídeos se deslocavam na mesma órbita do cometa periódico Tempel-Tuttle (1866 I), visto pela primeira vez em 1865, com períodos de retorno de 32,9 anos.

Nenhuma grande chuva ocorreu no ano de 1899, como era previsto, causando um grande desapontamento. O motivo de tal falha parece ter sido provocada pela perturbação na trajetória do enxame de meteoróides pelos planetas Saturno em 1870 e por Júpiter em 1898. Com efeito, em seu movimento ao redor do Sol, o enxame passou por Júpiter em 1898 e o campo gravitacional do planeta desviou os meteoróides para uma distância da Terra de cerca de 2 milhões de quilômetros. Em 1925, o perito norte-americano em meteoros Charles Oliver chamou atenção para o fato que a decepção provocada em 1899 criou um descrédito em relação à astronomia e à ciência. No entanto, pouco se falou da chuva de 1.000 meteoros por hora que ocorreu, na noite de 15 de novembro, nem na de 1901 que apesar de muito curta foi muito intensa. Os espetáculos de 1932 e 1933 não foram dos melhores.

Em 1966, registrou-se uma das maiores manifestações jamais vista pelos observadores do meio oeste dos EUA, quando o radiante se encontrava mais elevado a sudoeste. Em duas horas, a taxa elevou-se de 33 meteoros por hora a 30 por minuto, (1.800 por hora), em Kitt Peach, no Arizona, EUA. Durante o máximo, que durou cerca de 20 minutos, a taxa alcançou 40 meteoros por segundo, ou seja, 150.000 por hora. Em alguns momentos, a torrente foi mais elevada: 140 meteoros por segundo, ou seja, 504.000 por hora. A plenitude dos Leonídeos, para muito observadores, levou-o à procura de uma proteção com receio que a crescente freqüência de meteoros – 10, 20, 40 e 140 novos meteoros por segundo – os colocou diante da ameaça de um massacre! No entanto, o astrônomo brasileiro João Gualda, do Observatório Nacional, em uma de suas missões gravimétricas no interior do Brasil, relatou-me que ao assistir tal ocorrência ficou maravilhado pela beleza do espetáculo.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador-titutar do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor, autor de mais de 65 livros, entre outros livros, do “O livro de Ouro do Universo”.Consulte a homepage:

http://www.ronaldomourao.com

Como observar os Leonídeos

HORÁRIO: Os Leonídeos vão ocorrer nas noites de 17, 18 e 19 de novembro. Esse período vai coincidir com a Lua cheia (19/11/2002) presença do luar vai dificultar a visualização dos meteoros assim como dos seus rastros.

PONTOS DE OBSERVAÇÃO: O local ideal para observá-los é uma região afastada da iluminação urbana. Os lugares altos, com pouca iluminação e boa visão do horizonte serão os melhores para observar os Leonídeos.

DIREÇÃO: O observador deve olhar para a constelação do Leão, onde se encontra o radiante dos Leonídeos. Convém olhar para o leste (lado do nascente do Sol), onde a constelação do Leão estará nascendo. O melhor momento para começar a observar é depois das três horas da madrugada até o nascer-do-Sol.

PARA ENCONTRAR NA CARTA CELESTE: A chuva de meteoros parece ter sua origem na Constelação do Leão. Para encontrá-la será suficiente imaginar uma linha reta, em direção ao Sul, partindo das duas estrelas as mais brilhantes das constelações da Ursa Menor e da Ursa Maior. Para identificar essa constelação no céu convém consultar a Carta Celeste de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, editada pela Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, ou Atlas Celeste, do mesmo autor, Vozes, Petrópolis-RJ.

ORIGEM: Esses meteoros, que cruzam anualmente a atmosfera terrestre, são restos de rochas ou metais deixados pelo cometa Tempel-Tuttle, que se tornam incandescentes ao entrarem na atmosfera, desintegrando-se no espaço, antes de atingir a superfície terrestre.

VISIBILIDADE: A observação a olho nu é a mais conveniente para se contemplar uma chuva de meteoros. Binóculos ou luneta são desnecessários. Dependendo da transparência da atmosfera, será possível observar os meteoros de diferentes colorações. As cores dos meteoros como o verde, vermelho e branco vão depender do tipo de átomos com os quais os fragmentos – meteoróides – do cometa reagem ao atrito com a atmosfera.

INTERNET: Para obter imagens das mais notáveis chuvas anteriores, consultar o site:

www.ronaldomourao.com.
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