Néstor Kirchner, ex-presidente argentino e cabeça da chapa governista para as eleições parlamentares de amanhã, testará nas urnas a estratégia de campanha assentada no flagrante uso da máquina pública. Marido da presidente Cristina Kirchner, ele se deslocou pela Província de Buenos Aires em helicópteros da Casa Rosada. Também se valeu da estrutura do governo – das assessorias de imprensa aos programas oficiais de assistência social – para cultivar um eleitorado que ainda pende para seu rival, o dissidente peronista Francisco De Narváez. A um dia das eleições, as pesquisas apontam uma diferença de apenas 2,5 pontos porcentuais entre as chapas de Kirchner e de De Narváez.

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A redução dos eleitores cativos do casal Kirchner, em apenas dois anos, ocorre a despeito dos programas assistencialistas. A pobreza alcança 36,8% da população da Grande Buenos Aires, excluída a capital, segundo recente pesquisa da Sociedade de Estudos Trabalhistas (SEL, na sigla em espanhol). Um dos dez programas do Plano Famílias, por exemplo, prevê a doação de 300 pesos (cerca de US$ 90) mensais a mães de baixa renda. O Plano de Segurança Alimentar envolve a distribuição de cestas-básicas e tíquetes-refeição.

Nenhum dos programas traz contrapartidas, como a preservação de crianças nas escolas. Por meio desses instrumentos, o casal Kirchner despeja dinheiro público há seis anos ao eleitorado mais carente. Não há dados confiáveis sobre os dispêndios do Ministério de Segurança Social, que coordena essas ações sociais e é comandado pela única irmã do ex-presidente, Alicia Kirchner.

“Nunca vi um uso tão abusivo da máquina pública em uma eleição”, afirmou ao Estado o historiador Felix Luna, conhecido intelectual da Argentina. “Isso se faz sem que ninguém reaja, a não ser a imprensa e a oposição. A situação é de impunidade total.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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