A Justiça argentina bloqueou os bens da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) logo após sua passagem por um tribunal de Buenos Aires, na tarde desta quarta-feira. Ela tinha sido convocada pelo juiz Claudio Bonadio para receber a notificação sobre um embargo no valor de 15 milhões de pesos (R$ 3,3 milhões), parte da investigação por venda de dólar futuro no fim de seu governo.

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Para o magistrado, Cristina ordenou uma operação na qual o país perdeu o equivalente a R$ 17,1 bilhões ao negociar a divisa pelo preço oficial quando o valor de mercado para entrega neste ano era 42% maior. O kirchnerismo respondeu então com uma ação contra Bonadio, alegando que o rombo ocorreu porque Macri consumou a desvalorização do peso e políticos governistas ainda lucraram com isso.

Em sua última declaração, referente a 2015, Cristina apresentou bens no valor de 77 milhões de pesos (R$ 17,2 milhões). Tecnicamente conhecido como “inibição geral de bens”, o recurso usado por Bonadio é uma cautelar que atinge todos os bens móveis e imóveis do alvo da ação, a pedido de um credor. Não é possível vendê-los ou hipotecá-los. A duração é de cinco anos, ou até que o alvo da ação regularize a pendência que a motivou. No caso de Cristina, a razão original é montante de 15 milhões de pesos embargados inicialmente por Bonadio, que a ex-presidente afirmou não ter à disposição. A manutenção da medida está sujeita a recurso.

A ex-presidente chegou ao tribunal de Comodoro Py às 12h52, recebida por militantes que a saudavam com gritos de “Cristina do povo”. Entrou cercada por seguranças, assinou a notificação e não viu o juiz, a quem considera um inimigo e deseja afastar das causas de a envolvem. O primeiro passo fora do previsto foi dela, ao formalizar outra acusação contra o magistrado. Cristina o responsabilizou por vazar dados que alimentaram uma nova denúncia feita na véspera pela deputada Margarita Stolbizer contra ela.

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A parlamentar de centro-esquerda, que tem apoiado a coalizão Cambiemos, do presidente Mauricio Macri, afirmou à Justiça que a família Kirchner mantém ao menos três cofres com US$ 5 milhões não declarados e com movimentações recentes em bancos de Buenos Aires – a filha de Cristina, Florencia, teria um US$ 1 milhão. A ex-presidente admitiu que investimentos em prazos fixos que tinha e transformara em pesos durante seu governo foram convertidos em dólar ao sair da Casa Rosada. Ela negou que não estejam declarados.

Cristina deixou o tribunal ainda sem saber do bloqueio de seus bens. A jornalistas que a esperavam em uma rua lateral, reclamou de ter sido chamada para uma notificação a mais de 2 mil quilômetros de sua casa. “Há uma atuação do ‘Partido Judiciário’ que beira o ridículo. Para colocar uma assinatura, eu não precisaria ter vindo aqui. Só demorei mais tempo no tribunal em razão da denúncia que vim fazer”, justificou. Cristina alegou ter marcada uma consulta médica para atrasar em três horas sua notificação. Assim, não esbarrou no tribunal com o empreiteiro Lázaro Báez, preso desde abril sob acusação de enriquecimento ilícito durante o kirchnerismo.

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O empresário, beneficiado com 80% das licitações na Província de Santa Cruz, berço político dos Kirchner, foi ouvido às 10 horas. Ele saiu do tribunal 40 minutos antes da chegada de Cristina. Em seu depoimento, Báez não envolveu a ex-presidente em seu aumento patrimonial e alegou não saber de que crime exatamente era acusado.