A companhia japonesa Tokyo Electric Power (Tepco), proprietária da usina nuclear Daiichi, em Fukushima, afirmou hoje que pretende começar a pagar na próxima semana compensações aos moradores da área afetada pelo acidente nuclear. O presidente da Tepco, Masataka Shimizu, disse que cerca de 50 mil famílias, em um raio de 30 quilômetros da usina, podem receber pagamentos de até 1 milhão de ienes, o que totaliza gastos de até 50 bilhões de ienes.

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O principal porta-voz do governo, ministro Yukio Edano, disse hoje que as pessoas que receberam ordens de ficar em suas casas também devem obter indenizações. Edano também sugeriu que as pessoas no raio de 30 quilômetros que podem ser afetadas por “evacuações planejadas” também devem estar entre os que receberão indenizações.

Repetindo declarações do governo, o presidente da Tepco disse que não especularia sobre o valor total dos pagamentos aos moradores, pois a situação nos reatores não está sob total controle. Ele disse que a Tepco estuda a possibilidade de cortar empregos, como parte dos esforços para aperfeiçoar operações e liberar recursos para os pagamentos.

“Nós devemos perseguir a racionalização que não considera nada sagrado”, disse Shimizu em entrevista à imprensa. “Nós faremos o máximo de esforço para levantar fundos.” Um executivo da companhia acrescentou hoje que ela deve ter de vender alguns de seus ativos para liberar fundos para as indenizações.

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Pressão

A medida é anunciada na mesma semana em que o governo japonês elevou a classificação da crise nuclear para o nível 7, o mais alto pelos padrões internacionais. Até então, apenas o desastre nuclear de Chernobyl havia chegado a esse nível. Reguladores japoneses avaliou que a usina provavelmente já liberou muita radiação desde que ocorreram várias explosões causadas pela perda da capacidade de resfriamento após o violento terremoto seguido de tsunami em 11 de março.

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Como os níveis de radiação aumentaram muito nos dias seguintes ao início da crise, no mês passado, o governo estabeleceu uma zona de isolamento para os moradores que viviam em um raio de até 20 quilômetros da usina. Também foi recomendado aos moradores em uma área entre 21 e 30 quilômetros da usina que evitem sair de suas casas. Mais cedo nesta semana, o governo decidiu também esvaziar total ou parcialmente cinco cidades e vilas nas proximidades da zona original de 20 quilômetros, onde foram registrados níveis preocupantes de radiação.

Estatização

Funcionários do governo rechaçaram as especulações de que a Tepco possa ser estatizada. O ministro de Economia, Comércio e Indústria do Japão, Banri Kaieda, afirmou hoje que o governo não tem planos para a nacionalização e quer que a companhia pague pelos custos associados à crise nuclear com seus lucros. Mas ele disse que Tóquio estuda todas as opções, incluindo pedir a outras companhias que possuem usinas nucleares que compartilhem o custo.

A incerteza em torno da capacidade da Tepco de lidar com o que deve ser uma grande soma em indenizações derrubou os preços da ação da companhia. As ações da empresa perderam 78% de seu valor desde o terremoto de 11 de março.

O custo de proteção contra eventual calote na dívida da empresa permanece alto, ainda que tenha caído um pouco hoje, após a divulgação de um relatório segundo o qual o governo avalia a criação de uma seguradora nuclear estatal, que ajudaria no esforço para honrar as indenizações.

A seguradora estatal proposta distribuiria o peso das compensações, de modo que a companhia mantenha a capacidade de fornecer eletricidade para a Grande Tóquio, uma preocupação para o importante setor manufatureiro e para os consumidores da região que temem a possibilidade de blecautes nos meses quentes do verão (boreal) pela frente. As informações são da Dow Jones.