Em meio a uma nova rodada de crise política, uma centelha de esperança emergiu hoje na Itália para a coalizão do primeiro-ministro Enrico Letta: os sinais crescentes de divisão interna no partido de centro-direita liderado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi abrem a possibilidade de que o governo possa sobreviver a um voto de confiança no Parlamento, agendado para quarta-feira.
Na semana passada, Berlusconi retirou seu apoio ao governo de Letta, ordenando que os cinco ministros de seu partido que integravam o gabinete entregassem os cargos. Segundo a agência Ansa, as cartas de renúncia dos ministros foram entregues hoje ao premiê. Além da renúncia dos ministros, Berlusconi pediu a convocação de novas eleições.
Enquanto isso, no entanto, um grupo de parlamentares do partido de Berlusconi, o Povo da Liberdade, passou a resistir à ideia de convocar novas eleições. Os próprios ministros de saída do governo, incluindo Angelino Alfano, secretário do partido e vice-premiê de Letta, imediatamente manifestaram reservas quanto ao desejo de Berlusconi de derrubar o governo.
O governo liderado por Enrico Letta foi formado pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano, em abril deste ano após as eleições nacionais não terem apontado um partido vitorioso nas urnas. Napolitano forçou uma coalizão entre a esquerda, representada por Letta, do Partido Democrata, e o Povo da Liberdade liderado por Berlusconi, de centro-direita. Embora o partido de Letta tenha uma clara maioria na Câmara, no Senado o premiê precisa dos votos do partido de Berlusconi para ter maioria. A tensão entre os dois partidos cresceu após a condenação do ex-premiê italiano pela Justiça no mês passado por fraude tributária, o que gerou procedimentos para expulsá-lo do Senado.
Letta precisa de cerca de 19 votos no Senado para ter maioria, sejam do partido de Berlusconi ou do Movimento Cinco Estrelas, de Beppe Grillo, ambos na oposição atualmente. Nos últimos dias, entretanto, políticos dos dois partidos começaram a sinalizar com possíveis deserções, o que sugere que Letta tem uma chance de sobreviver ao voto de confiança no Senado e permanecer no poder, ainda que com uma maioria parlamentar diferente e estreita.
Mesmo se conseguir os votos suficientes para ficar no governo, o governo de Letta corre o risco de seguir em frente muito enfraquecido. “Isso levaria a uma maioria frágil incapaz de fazer muita coisa”, disse Francesco Galietti, diretor da consultoria Policy Sonar, baseada em Roma, e um ex-assessor sênior de um dos governos de Berlusconi.
“Um punhado de dissidentes não permitirá que Letta governe”, alertou Massimo D’Alema, ex-premiê italiano e atualmente no Partido Democrata, em entrevista à TV italiana. “A menos que um grupo expressivo de partidários de Berlusconi rompa com o partido, seria melhor avançar rapidamente com novas eleições”, recomendou.
O banco italiano Mediobanca atribui 60% de probabilidade de um novo governo ser formado na Itália e liderado pelo atual premiê Enrico Letta graças à dissidência de parlamentares de partidos de oposição. Para a instituição, no entanto, Letta tem apenas 20% de chance de continuar liderando a coalizão do governo como está atualmente sem a necessidade de um voto de confiança. O banco atribui apenas 10% de probabilidade de eleições antecipadas serem convocadas para 24 de novembro, e descarta que o Partido Democrata, de Letta, una forças com o Movimento Cinco Estrelas, de Beppe Grillo. Fonte: Dow Jones Newswires.