O Hamas e do Fatah chegaram a um acordo inicial sobre a reunificação de seus governos rivais instalados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, afirmaram representantes dos dois grupos hoje. A medida que pode significar um grande avanço na direção dos esforços de paz com Israel.
Mesmo antes de o acordo ser assinado, porém, questões importantes permanecem, como quem vai controlar as forças de segurança rivais. Discordâncias sobre o controle da segurança surgiram em junho de 2007, durante a guerra civil que terminou com o Hamas tomando o controle de Gaza.
Israel rejeitou imediatamente a perspectiva de um governo palestino que inclua o Hamas e os Estados Unidos expressaram preocupações semelhantes. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o presidente palestino Mahmoud Abbas deve escolher entre a paz com Israel ou com o Hamas.
Representantes do Hamas e do Fatah disseram que o acordo, mediado pelo Egito, pede a formação de um único governo interino nos próximos dias. Este governo deve administrar as questões do dia-a-dia da administração até a realização de novas eleições presidencial e legislativas, que devem ocorrer no prazo de um ano.
“Agora temos um acordo abrangente. Concordamos em todas as questões”, disse Azzam al-Ahmed, negociador-chefe do Fatah nas conversações de reconciliação. Ainda não se sabe quando o acordo será assinado.
Hani Masri, integrante da delegação palestina que se reuniu com líderes do Hamas na Síria e com a nova liderança do Egito disse que os levantes políticos nos dois países fizeram com que os dois rivais se aproximassem e “tornou o acordo possível”. Al-Ahmed disse que, pelo acordo, as forças de segurança do Fatah e do Hamas serão unificadas e “reestruturadas” sob uma “supervisão árabe”.
Num sinal de que algumas questões continuam sem solução, integrantes do Hamas – que falaram em condição de anonimato – disseram que suas forças de segurança manterão o controle do território costeiro por ora.
A questão das forças de segurança está no coração do racha palestino. Fatah e Hamas formaram um governo de unidade de pouca duração em 2007, que se desintegrou em poucos dias de confronto em Gaza. As forças do Hamas expulsaram integrantes do Fatah e desde então tem governado a Faixa de Gaza, deixando o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, com o controle apenas da Cisjordânia.
Os palestinos querem os dois territórios, localizados em lados opostos de Israel, para a formação de seu futuro Estado independente, além de Jerusalém Oriental. O racha interno impediu que os palestinos falassem de forma unificada, o que tornou quase impossível seguir com os esforços de paz com Israel.
O premiê israelense Benjamin Netanyahu rejeitou o acordo. Israel se recusa a dialogar com o Hamas, que não reconhece o direito de existência do Estado judeu. O grupo enviou dezenas de suicidas e disparou milhares de foguetes para o território israelense nos últimos anos.
Netanyahu afirmou que a ANP tem de escolher entre a paz com Israel ou com o Hamas. “A paz com ambos é impossível, porque o objetivo do Hamas é destruir o Estado de Israel, desejo que expressa abertamente”, disse. “Eu acredito que todo o conceito de reconciliação mostra a fraqueza da ANP”, argumentou, mencionando a perspectiva do Hamas tomar o controle da Cisjordânia. O porta-voz da ANP, Nabil Abu Rdeneh, respondeu que a reconciliação “é um assunto palestino interno e Israel não tem nada a ver com isso”.
EUA
Em Washington, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Tommy Vietor, disse que os Estados Unidos apoiam a reconciliação palestina no que diz respeito à promoção da paz, mas advertiu que “o Hamas é uma organização terrorista que ataca civis”. Ele disse que o governo palestino deve reconhecer Israel e renunciar à violência.
O Hamas é considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Os palestinos pretendem pedir em setembro à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) o reconhecimento do Estado palestino, apesar do impasse nas negociações com Israel. Um acordo que coloque todas as áreas palestinas sob um único governo pode fortalecer esses esforços.
O acordo deixa algumas questões obscuras, enquanto outras são de difícil implementação. Embora Abbas vá permanecer no poder sob o novo governo de unidade, o acordo exige que os dois primeiros-ministros – Salam Fayyad, da Cisjordânia, e Ismail Haniyeh, em Gaza – renunciem. Os dois assumiram seus cargos nos últimos anos, Haniyeh como o homem de frente do Hamas em Gaza e Fayyad como a ponte palestina com o Ocidente.
Al-Ahmed disse que os dois lados precisam concordar com a escolha de um novo primeiro-ministro nos próximos dias, um processo que deve levar a profundas discordâncias. O negociador do Fatah disse também que o novo governo será constituído apenas de políticos independentes, para não irritar a comunidade internacional. As informações são da Associated Press.