O governo de Israel admitiu nesta quarta-feira, após mais de dois anos de silêncio, que manteve um homem de origem estrangeira com dupla cidadania em confinamento solitário por razões de segurança sem revelar sua identidade nem apresentar acusações contra ele. O prisioneiro em questão teria se suicidado em sua cela numa prisão de segurança máxima em 2010, mas o caso só veio à tona agora, depois que uma ordem judicial suspendeu a censura imposta à imprensa de Israel, que vinha sendo impedida de divulgar do caso.
De acordo com o Ministério da Justiça de Israel, a família do prisioneiro foi notificada após a detenção e os direitos dele foram “preservados”. A nota do governo limita-se a informar que o prisioneiro possuía dupla cidadania, uma delas israelense, sem revelar a outra. Uma investigação encerrada há um mês e meio concluiu que o prisioneiro suicidou-se, mas um juiz israelense pediu que fosse investigada a possibilidade de negligência por parte do Estado.
Hoje, a Australian Broadcasting Corporation (ABC) identificou o prisioneiro como Ben Zygier, também conhecido como Ben Allen, um cidadão australiano que imigrou para Israel em 2000. Quando morreu, ele tinha 34 anos, era casado com uma israelense e tinha dois filhos.
Segundo a ABC, Zygier trabalhava para o Mossad, serviço israelense de espionagem internacional, e enforcou-se na cela projetada especialmente para a detenção de Yigal Amir, o militante judeu de extrema-direita que em 1995 assassinou o então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin. Ele teria sido preso por má conduta a serviço do Mossad.
Depois da divulgação da notícia pela ABC, o Ministério de Relações Exteriores da Austrália confirmou que o prisioneiro em questão era natural do país. Legisladores australianos exigiram respostas e o governo do país prometeu uma análise rigorosa do caso.
O chanceler australiano, Bob Carr, qualificou como “perturbadora” a possibilidade de haver cidadãos do país espionando a serviço de outros governos. “Australianos não deveriam trabalhar nem exercer função de coleta de informações para governos estrangeiros usando seus passaportes”, declarou Carr à ABC.
Ainda segundo ele, a chancelaria australiana soube ainda em 2010 que Allen fora preso, mas somente depois que a família pediu a repatriação de seus restos mortais à Embaixada da Austrália em Tel-Aviv.
O caso remonta a junho de 2010, quando o portal de notícias Ynet, de Israel, publicou nota sobre a existência de um prisioneiro (identificado apenas como “Prisioneiro X”) cujos crimes eram desconhecidos. Em 27 de dezembro do mesmo ano, o Ynet publicou que um prisioneiro mantido em confinamento solitário suicidara-se duas semanas antes.
Ambas as notas foram tiradas do ar pouco depois de terem sido publicadas. Em Israel, a censura militar tem poder para suprimir ou impedir a publicação de reportagens consideradas nocivas à segurança do país. O escritório de censura israelense recusou-se a comentar o caso.
Em Israel, a imprensa local vinha sendo proibida de noticiar o caso até hoje, quando caiu a ordem judicial que impedia a mídia de tratar do assunto. As informações são da Associated Press.