Há um ano, a foto do encontro dos países que formam o G-7 se tornou a melhor imagem para descrever a relação de Donald Trump com o multilateralismo. Sentado, de braços cruzados e emburrado, o americano encarava líderes das outras seis maiores economias. Em pé, a chanceler Angela Merkel apoiava as mãos em uma mesa, rodeada pelos colegas. Os dois dias de cúpula do G-20, no Japão, indicam que Trump redobrará a aposta nessa tática para se reeleger em 2020.

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Antes mesmo de embarcar para o Japão, Trump atacou aliados históricos: “Os europeus nos tratam pior do que a China”. Os EUA tentaram demover os aliados, no G-20, de incluir no comunicado final o comprometimento com o Acordo de Paris, pacto ambiental que fixa metas rígidas de preservação.

Um dos países que os americanos esperavam fazer mudar de lado era o Brasil. Mas, com outros interesses em jogo, os demais não compraram a briga ambiental. No caso brasileiro, o fechamento do acordo de livre-comércio do Mercosul com a União Europeia contribuiu para a permanência do País no pacto ambiental.

Trump, mais uma vez, não se importou em continuar no jogo sozinho. O comunicado final da cúpula destacou que os países se comprometeram a seguir o acordo climático, exceto os EUA, que reiteraram a decisão de retirar-se do Acordo de Paris “porque prejudica os trabalhadores e contribuintes americanos”. Na prática, o G-20 conseguiu consenso porque concordou em divergir de Trump.

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Desde que chegou à Casa Branca, Trump abriu uma série de frentes de negociação fora do país que incluem China, Coreia do Norte, México, Irã e Venezuela, por exemplo. Apesar de eleitores costumarem dar mais atenção aos assuntos locais, Trump coloca sua política externa como parte da plataforma de nacionalismo e valorização dos americanos – é a “América em primeiro lugar”.

Por isso, Trump prefere as negociações que encampa sozinho às negociadas em bloco. Ele manteve o seu perfil imprevisível, ao fazer um convite público ao ditador Kim Jong-un para um encontro na zona desmilitarizada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Até assessores próximos do presidente foram pegos de surpresa com a proposta, considerada uma “sugestão muito interessante” por Kim. Para Bruen, Trump manteve sua “típica estratégia de distração” quando acredita que não recebeu a atenção suficiente e por isso o “convite aleatório” para Kim.

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Michael Green, vice-presidente de Ásia e Japão do CSIS, avalia que Trump vê como um ato solitário a negociação como a da Coreia do Norte. “Seria desejável um comunicado dos países em conjunto para pressionar a Coreia do Norte a entregar algo real. Mas eu não acho que Trump veja esses aliados como uma forma de construção de pressão internacional. Eu acho que ele vê as negociações como um ato solo”, disse o especialista.

“Trump parece mais à vontade com homens fortes do que com líderes democráticos”, registrou o jornal The Washington Post, sobre a passagem do americano pelo G-20 e encontros bilaterais do presidente americano, que incluíram, por exemplo, o russo Vladimir Putin e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.

Para Fernando Cutz, ex-assessor da Casa Branca, a participação de Trump foi típica. “O foco dele foi dado para países adversários, como Rússia e China, e pouca atenção aos aliados. Pessoalmente, Trump tem uma afinidade com Putin e Xi. Ele é mais simpático com eles e dá mais benefícios a eles, e a outros líderes igualmente autoritários, como o príncipe da Arábia Saudita, do que a líderes como o Macron (França) ou o Trudeau (Canadá)”, afirmou Cutz.

Trump deixou claro que sua atenção está voltada para 2020. No Japão, entre as reuniões, acompanhava pelo celular o debate dos pré-candidatos democratas e usava o celular para tuitar críticas aos seus possíveis oponentes. No encontro bilateral com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, Trump rapidamente transformou o que era um comentário sobre Venezuela em uma crítica à oposição: “ouvi dizer que irão mudar o nome para partido socialista”, disse.

“O G-20 foi um sucesso para Trump na medida em que não houve grandes crises. No entanto, na maioria das questões, da China à Índia, ele parecia incapaz de fazer progressos substanciais ou mesmo pequenos. A maior parte do tempo dele foi gasta tentando consertar os problemas que ele mesmo criou, do Irã ao comércio”, afirmou Brett Bruen. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.