A Irmandade Muçulmana declarou hoje que não tem como objetivo tomar o poder no Egito. A afirmação parece ser uma tentativa de acalmar os temores do Ocidente a respeito de uma tomada islamita do governo egípcio em meio a protestos contra o presidente Hosni Mubarak.

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O movimento islamita ainda é o mais poderoso e organizado grupo de oposição do país, mas ficou na retaguarda das manifestações que exigem a saída de Mubarak, lideradas por jovens egípcios desiludidos com a política tradicional. “A Irmandade Muçulmana não busca o poder. Nós não queremos nos envolver no momento”, disse o líder Mohammed Mursi. “Não vamos apresentar um candidato à presidência.”

Observadores ocidentais e israelenses expressaram o temor de que o grupo, oficialmente proibido porém bastante tolerado, possa tomar o poder e substituir Mubarak, importante aliado dos Estados Unidos, além de impor uma república no estilo da iraniana e rasgar o tratado de paz entre Egito e Israel, assinado em 1979.

No entanto, Essam al-Erian, outro graduado integrante da Irmandade Muçulmana que falou durante a mesma coletiva de imprensa, afirmou que o grupo quer apenas eleições livres e democráticas. “Por que este medo da Irmandade Muçulmana? Nada pode justificar este medo do Islã. Nós rejeitamos a ideia de um Estado religioso.”

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Sobre o tratado de paz com Israel, Mursi disse que o futuro deverá ser decidido nas urnas, de acordo com quem os egípcios elegerem para representá-los num governo pós-Mubarak. Ele acrescentou que o grupo permanece aberto ao diálogo com o governo, mas que Mubarak deve sair imediatamente. “O presidente deve deixar o cargo. Uma nova era deve começar.”

O grupo participou das conversações iniciadas pelo vice-presidente do país, Omar Suleiman, porém demonstrou desapontamento com o progresso das negociações. “O regime fracassou, mas parece que algumas pessoas acham que este diálogo é um monólogo”, disse Mursi. As conversações envolvendo a Irmandade, pequenos grupos opositores e o governo se concentraram até agora em estabelecer um comitê para analisar mudanças nos mais controversos artigos da Constituição do país.

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Mas a Irmandade e os manifestantes em todo o Egito – muitos dos quais dizem que não são representados nas negociações – têm seguido aos milhares, diariamente, para as ruas do país desde 25 de janeiro. Eles querem uma promessa concreta de que Mubarak vai deixar o cargo imediatamente, não em setembro, mês em que nova eleição presidencial será realizada. As informações são da Dow Jones.