O porta-voz da Irmandade Muçulmana, partido político proscrito no Egito, disse que a revolução contra o regime do presidente Hosni Mubarak “é um levante de todo o povo egípcio” e que sua organização está tentando não aparecer muito para que a revolta não seja vista como uma “revolução islâmica”. Em entrevista à revista semanal alemã Der Spiegel, Rashad al-Bayoumi acusou o regime de Mubarak de distorcer a imagem da Irmandade Muçulmana. “O Ocidente não vai nos ouvir, mas nós não somos demônios. Queremos a paz, e não a violência. Nossa religião não é diabólica, ela respeita os crentes de outras religiões; esses são nossos princípios”, disse o porta-voz.
A Der Spiegel também entrevistou o senador norte-americano John McCain, candidato do Partido Republicano derrotado por Barack Obama nas últimas eleições presidenciais nos EUA. Para ele, seria um “grande erro” permitir que a Irmandade Muçulmana participe de qualquer futuro governo de transição no Egito. “Eles são um grupo extremista, cujo objetivo principal é estabelecer a Sharia (lei religiosa muçulmana). Ela é antidemocrática de alto a baixo, especialmente no que se refere aos direitos das mulheres”, disse o senador.
O principal dirigente da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badie, disse ontem que sua organização está pronta para manter conversações sobre a transição política no Egito, depois de Mubarak renunciar. “Estamos com todas as forças políticas que apoiam o diálogo com quem quer que queira implementar reformas depois da saída desse tirano injusto e corrupto”, disse Badie, em entrevista à rede de televisão árabe Al-Jazira.
Indagado sobre se a Irmandade Muçulmana estaria disposta a dialogar com o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman, ex-chefe dos serviços de inteligência do regime de Mubarak, Badie disse que “nós só temos uma exigência. Uma vez que ela for atendida, nós nos engajaremos no diálogo”. A exigência é a mesma dos manifestantes que ocupam a Praça Tahrir, no centro do Cairo, há 12 dias: a renúncia de Mubarak.
A Irmandade Muçulmana foi fundada em 1928 e só abandonou a tese da luta armada nos anos 1970, durante o governo de Anwar Sadat, o antecessor de Mubarak. Embora na ilegalidade, ela é tolerada pelo regime de Mubarak porque suas entidades assistenciais suprem carências sociais que o governo não pode ou não quer atender. As informações são da Dow Jones.