O discurso proferido na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na terça-feira foi “ignorante, absurdo e odioso”, disse ontem no mesmo local o presidente do Irã, Hassan Rouhani. Sem mencionar o nome do líder americano, Rouhani comentou que será uma “pena” se o acordo em torno do programa nuclear de seu país for “destruído por desonestos novatos no mundo da política”.

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Enquanto Rouhani falava, sua conta no Twitter se encarregava de dissipar qualquer dúvida sobre o alvo de seu discurso: “Palavras repulsivas e ignorantes foram ditas pelo presidente dos EUA contra a nação iraniana. Cheias de alegações odiosas & sem fundamento e impróprias para a #UNGA”, escreveu, usando a hashtag relativa à Assembleia Geral.

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No dia anterior, Trump havia se referido ao governo de Teerã como uma “ditadura corrupta”, que exporta violência e terrorismo e fala abertamente em assassinatos em massa. “Ele transformou um país abastado, com uma rica história e cultura em um Estado pária empobrecido, cujas principais exportações são a violência, o derramamento de sangue e o caos”, afirmou o americano.

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No discurso, Trump indicou que poderia retirar os EUA do acordo que levantou sanções sobre o Irã em troca da suspensão de aspectos do seu programa nuclear. Se isso ocorrer, Teerã responderá de maneira “decisiva e resoluta”, disse Rouhani. Segundo ele, a intensidade da resposta dependerá em parte da posição dos países europeus que participam do acordo -França, Inglaterra e Alemanha, além da União Europeia. Os outros signatários são China e Rússia.

Caso os EUA descumpram o pacto e restabeleçam sanções, Rouhani disse que o Irã analisará a possibilidade de expandir suas atividades de enriquecimento de urânio, que são restringidas pelo acordo. Mas ressaltou que seu país nunca buscará a construção de bombas nucleares.

“A retórica ignorante, absurda e odiosa ódio, cheia de alegações ridículas e sem base, que foi pronunciada nesta augusta instituição, não só é imprópria para as Nações Unidas, mas na verdade contradiz as demandas de nossas nações nessa organização global de unir governos no combate à guerra e ao terror”, declarou.

O tratado em torno do programa nuclear do Irã foi um dos principais legados diplomáticos do ex-presidente Barack Obama, ao lado do Acordo de Paris sobre mudança climática e do processo de reaproximação com Cuba. Todos estão ameaçados por Trump. Em julho, ele anunciou a decisão de retirar os EUA do tratado ambiental. Também congelou a relação com Cuba e disse que só suspenderá sanções se o governo da ilha realizar reformas.

Em seu discurso na ONU, o presidente se referiu ao acordo sobre o programa nuclear do Irã como um dos piores já negociados por seu país. O Irã foi o segundo principal alvo do pronunciamento de Trump, logo abaixo da Coreia do Norte. Desde sua posse, em janeiro, Pyongyang acelerou suas atividades nucleares, com o lançamento de vários mísseis balísticos. Há poucas semanas, o país realizou o sexto teste de uma bomba nuclear, com a detonação do mais potente dispositivo que já construiu. Na ONU, Trump disse que não terá outra alternativa que “destruir totalmente” o país de 25 milhões de habitantes, caso os EUA tenham de se defender de uma ameaça nuclear.