O embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh Yazdi, afirmou hoje que, apesar de ter iniciado o processo para o enriquecimento de urânio a 20%, seu país continua disposto a comprar o combustível nuclear do exterior, conforme o acordo negociado com o P5+1 (Estados Unidos, França, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha). O acordo prevê a transferência do estoque iraniano de 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% para a Rússia, que elevaria esse teor a 20% e transferiria para a França completar a produção de combustível para o reator de Teerã, que produz radiofármacos.
Shaterzadeh insistiu que o anúncio feito pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, sobre o enriquecimento em teor mais elevado ocorreu depois de concluído o prazo de dois meses para a negociação. Nesse período, o Irã insistiu para que a entrega de seu urânio fosse em três lotes e que a troca desse produto pelo combustível ocorresse simultaneamente.
No entanto, essas condições não foram aceitas pelo P5+1. “Vamos fabricar (o combustível), mas também continuar o diálogo. Se os ocidentais não impuserem condições, estamos dispostos a comprar o combustível”, afirmou. “O Irã não vai dizer que está precisando dos ocidentais.”
Do ponto de vista do Itamaraty, o anúncio de Ahmadinejad não implicará na produção em curto prazo do combustível nuclear que o Irã necessita para o funcionamento do reator produtor de radiofármacos. O país demoraria alguns anos para obter o produto acabado. Porém, o embaixador iraniano insistiu que seu país tem capacidade de produção, embora não tenha mencionado prazo. “No Irã, temos sim capacidade de enriquecer o urânio a 20%. A partir de amanhã, vamos começar a fazer isso e vocês verão os resultados.”
Brasil
Segundo o embaixador, o governo iraniano “confia” no Brasil. Ele insistiu que, assim como o programa nuclear brasileiro, o de seu país não tem a finalidade de produzir armamento e é voltado exclusivamente para a medicina, a agricultura e a geração de eletricidade, “no sentido do bem”.
“Ao contrário de outros países, que reagiram contra o anúncio do presidente Ahmadinejad, o Brasil não pensa em colonizar outro país”, disse. “Os países que reagiram têm forte armamento nuclear. Se falam a verdade sobre o Irã, que destruam primeiro os seus arsenais antes de dar conselhos aos outros.”