Introdução de espécies exóticas invasoras causa prejuízo

Depois da falta de preservação, as espécies exóticas invasoras são a maior ameaça à biodiversidade mundial. Essas plantas, animais e microrganismos muitas vezes são introduzidos em determinado local acidentalmente, ou, implantadas como uma alternativa econômica. Porém, na grande maioria dos casos, se transformam em prejuízos financeiros e acarretam problemas ambientais e de saúde pública.

Pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) são consideradas espécies exóticas todas aquelas que não são nativas de um ambiente, e que conseguem sobreviver, se reproduzir e disseminar, expulsando as espécies originárias, causando danos e prejuízos ao ecossistema. Dados da CDB indicam ainda que em um levantamento feito nos Estados Unidos, Austrália, África do Sul, Reino Unido, Índia e Brasil as perdas econômicas anuais em virtude dessas es

pécies na flora atingem EU$ 250 bilhões. Somente na fauna, a estimativa é que 18% das extinções com causas conhecidas desde o ano de 1600 foram devido à introdução de espécies exóticas.

No Brasil, a estimativa é que existam 355 espécies que afetam a biodiversidade. Os dados fazem parte de um levantamento encomendado pelo governo Federal a universidades e organizações não governamentais, e que servirão de elementos de apoio para a Câmara de Apoio Nacional à Biodiversidade, que está sendo criada. Durante a 8.ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (COP8), que terminou na semana passada em Curitiba, o Brasil assinou um termo de adesão ao Programa Global de Espécies Invasoras, se tornando o primeiro país da América Latina a aderir à Iniciativa das Dez Nações, que coordena em âmbito global o combate às espécies exóticas invasoras.

Paraná

A diretora executiva da organização não governamental (ONG) Instituto Horus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental Silvia Ziller disse que a adesão do Brasil ao termo foi um passo importante porque o País reconhece o problema. No entanto, Silvia diz que ainda é preciso fazer mais, e investir principalmente em mecanismos precisos de controle da entrada dessas espécies.

De forma pioneira no Brasil, o Paraná baixou uma portaria, em dezembro de 2005, que prevê a erradicação de espécies exóticas invasoras de unidades de conservação. O doutor em ecologia e diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), João Batista Campos, disse que a portaria estabelece prazos para a eliminação de de espécies como a árvore pinus, a gramínea brachiaria e a uva-do-japão, que já se espalharam por várias unidades paranaenses.

Segundo Batista, esse trabalho visa inicialmente a identificação, erradicação e controle das espécies dentro das unidades de conservação, e, em um segundo momento, uma ação de combate no entorno das unidades. Para isso, devem contar com parcerias com entidades e proprietários de áreas vizinhas. Batista destacou que o trabalho inicia com espécies da flora, mas em seguida vão atuar na erradicação de espécies animais, como o javali, lebre européia e rã-touro, além do mexilhão dourado, do caramujo africano e da vespa-da-madeira.

Embrapa controla vespa-da-madeira

Um trabalho desenvolvido pela Embrapa Florestas, no Paraná, é considerado referência mundial no controle da vespa-da-madeira, uma praga que ataca plantações de pinus. A vespa chegou no País albergada em embalagens de suporte de mercadorias – 85% dos produtos internacionais são transportados em caixas ou suportes de madeira, o que facilita a proliferação de espécies invasoras. A vespa é originária da Ásia e Europa, e mata a árvore ao injetar uma substância tóxica e um fungo. O pesquisador e doutor em Entomologia Florestal da Embrapa, Edson Tadeu Iede, conta que, através de um programa em parceira com o governo Federal e a iniciativa privada, hoje eles conseguem controlar 90% da praga, cujo potencial de perdas é de R$ 42 milhões anuais. Ele explica que o primeiro passo do controle é fazer o monitoramento, montar armadilhas e manter a sanidade do plantio. Além disso, desenvolveram um mecanismo de resistência com a introdução de um inimigo natural – um nematóide que torna as fêmeas estéreis. Esse nematóide é importado da Austrália, transformado no laboratório do Paraná e as doses são enviadas para diversas regiões. (RO)

Paraná já contabiliza problemas

Mexilhão dourado, caramujo africano, javali, lebre européia, abelha africanizada, carpa, vespa-da-madeira, bico-de-lacre e tilápia. Essas são algumas espécies exóticas invasoras que estão presentes em território paranaense. Algumas delas foram introduzidas por estrangeiros que queriam tornar o ambiente semelhante ao que tinham no país de origem. Outras entraram acidentalmente ou vieram com a promessa de ser uma alternativa de renda. Segundo o biólogo da Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas do IAP, Mauro de Moura Britto, algumas dessas espécies são de fácil controle, mas dificilmente se consegue erradicá-las do ambiente. ?Pode se chegar a um nível de controle, e por isso é importante trabalhar com a prevenção?, comentou. Essa prevenção, diz o especialista, está ligada a informação da sociedade sobre o perigo de se introduzir uma espécie não nativa. ?Muitas pessoas, no intuito de iniciar uma produção, acabam burlando etapas de avaliação sobre a espécie no País. Foi o que aconteceu com o caramujo africano, que já tinha relatos de problemas no mundo todo?, ponderou. (RO)

Mexilhão dourado e caramujo africano são novas pragas

O mexilhão dourado foi introduzido na América do Sul pela Argentina em 1991, e veio trazido na água de lastro – água utilizada para estabilizar os navios – de uma embarcação da Ásia. Rapidamente ele subiu pelos rios da Prata, Paraná e Paraguai, e hoje já é encontrado no Pantanal, Minas Gerais e São Paulo. A característica desse mexilhão é que ele tem um filamento de proteína que faz com que ele se grude em qualquer superfície – plástico, metal, vidro ou concreto -, causando problemas principalmente para quem usa a água bruta, como hidrelétricas e companhias de abastecimento.

O pesquisador do Departamento de Meio Ambiente do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), Carlos Eduardo Belz, ressalta que o mexilhão adere aos equipamentos de resfriamento ou captação, causando entupimento e diminuindo a eficiência. Em relação aos impactos ambientais, a espécie causa um desequilíbrio no meio ambiente, filtra as micro-algas que servem de alimentos para outros peixes, alterando a cadeia alimentar. Belz disse ainda que já existem espécies que estão se alimentando do mexilhão, o que deve provocar um aumento de população, e pior, um problema de saúde pública.

?Como om mexilhão filtra tudo que está na água, inclusive metais pesados e coliformes, isso acaba se acumulando no peixe que está se alimentando dele, e em conseqüência, no homem que consumir esse peixe?, comentou.

Algumas alternativas para a erradicação do mexilhão dourado vêm sendo adotadas, como o aumento da quantidade do cloro na água. Mas essa ação, o pesquisador vê com cautela, pois o cloro tem um composto cancerígeno que poderá causar um outro problema. Ele ressaltou que o Lactec vem trabalhando com duas linhas de pesquisas que consistem no aumento do Ph (potencial hidrogeniônico) da água, e na introdução de uma outra espécie invasora – um hidrozoário do Mar Cáspio. Belz diz que o objetivo dos estudos não é matar o mexilhão, mas matar as larvas antes que elas cresçam.

Caramujo

Outra espécie que ainda continua sem controle no Paraná é o caramujo africano. Não se sabe ao certo quando a espécie foi introduzida, mas há suspeitas que foram trazidas por alguns produtores que participaram de uma feira na Europa. ?Chegou com a promessa de fácil criação e poderia colocar o Brasil no circuito internacional de comércio de escargot, mesmo o País não sendo um consumidor desse produto?, comentou a doutora Núcleo de Estudos do Comportamento Animal da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, Marta Luciane Fischer.

Muitos cursos sobre a criação e seguida venda de matrizes foram feitos no Brasil, sem que se tivesse nenhum controle sobre o assunto. Como a promessa de comércio não se concretizou, os animais se espalharam se tornando uma praga, atacando hortas e lavouras. Segundo Marta, os caramujos africanos estão espalhados em do todo o Brasil, e a grande ameaça é que quando não encontrarem mais alimentos na área urbana, vão invadir as florestas. ?Já temos registros de caramujos africanos em Morretes, em uma área bem preservada. Se isso se proliferar irá causar um desequilíbrio no ecossistema?, alertou.

Outro problema que essa espécie vem provocando é o desaparecimento de espécies nativas, como o caramujo branco – conhecido como aruá do mato – que era comum no litoral e hoje não se acha mais. Como a espécie nativa é mais sensível e coloca uma média de 2 a 3 ovos, contra os 300 a 400 que o caramujo africano, as chances de competição são muito pequenas. Segundo a doutora as ações conjuntas de entidades ambientais podem resultar em diminuição do problema. Mas é preciso que a população colabore separando o lixo e não jogando restos de alimentos. (RO)

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