As estratégias competitivas são guiadas pelo motor da inovação. Tal afirmação demonstra sua veracidade por meio das incertezas que regem o mundo corporativo atual, principalmente no instante que a realidade dominante no mercado globalizado exige movimentos velozes e precisos para se adaptar aos novos tempos. Estamos na época no real time e do just-in-time. Em outras palavras: tudo que deu certo ontem não é garantia de sucesso amanhã. Sempre tem alguém recriando algo mais eficiente.
O ciclo de vida de produtos e serviços está cada vez mais curto, as fórmulas vencedoras tornam-se obsoletas e, diante dessa verdade absoluta, não são poucas as previsões e profecias dos gurus da administração que caíram por terra, já que a renovação tornou-se questão de sobrevivência, onde quer que se olhe. Se até o casamento carece de reciclagem e inventividade para suportar os trancos da rotina, imagine só num ambiente em que a disputa pode resultar em alguns milhões a mais ou a menos!
Adicione-se a este cenário ardiloso e renhido a possibilidade de fazer negócios a distância. A internet transformou-se num agente facilitador da humanidade e estabeleceu-se como uma ferramenta capaz de unir o planeta por meio de cabos óticos. Mudar é obrigação. A visão futurista precisa disseminar a mensagem que a mudança é uma oportunidade, e não uma ameaça. Porém, se softwares e hardwares encurtam a interlocução, por trás da máquina ainda está o ser humano como comandante supremo e cerebral das ações. Por mais que a web se utilize desse caminho como atalho, os aspectos pessoais sofisticados não estão excluídos dessa central de relacionamento. Até que provem o contrário, a ciência não encontrou um substituto à altura na arte de barganhar, atacar, recuar e esperar o momento certo para amarrar e fechar a negociação.
Portanto, a necessidade de se encontrar esta vantagem competitiva num mundo tão mutante como revolto está em poder do ser humano. Se as pessoas são o maior ativo de uma empresa, cabe a elas recriarem constantemente as regras do jogo para fazer a diferença. A reengenharia das gestões para gerir esta gama de demandas desperta a crença e a necessidade de que o talento é o grande maestro das ações. Nesse ponto, os gurus não se equivocaram nas análises, nem nas profecias. Como o rei no tabuleiro de xadrez ou do camisa 10 do time de futebol, trata-se do personagem a ser privilegiado, incentivado, protegido, reconhecido e valorizado. A reestruturação da gestão estratégica possui o poder de alinhar a empresa com os mais modernos conceitos, além de democratizar a fertilização e implementação de idéias. Esses agentes permitem avaliar a pró-atividade da equipe, bem como a análise das habilidades pessoais de cada um.
Se a inovação das corporações é a garantia de sobrevivência empresarial nesta atmosfera mutante, e as pessoas são as responsáveis pela condução dos processos, o segredo corporativo está na composição da química dos profissionais. É dever das organizações oferecer condições para que o talento se desenvolva e traga algo diferenciado para o dia-a-dia do trabalho, por meio de choques freqüentes de estímulo intelectual. Por seu lado, ao ser tratado como parceiro e responsável pelo mesmo negócio, o funcionário devolve esta deferência particular com empenho e atitude.
Ou seja: ele se sente mais ousado em dar um passo além daquele já costumeiro e chega a locais jamais imaginados, ameaça sair da zona de conforto, descobre o potencial criativo até então obscuro e adormecido – perdido em meio à burocracia tarefeira -, aumenta sua capacidade produtiva e, por fim, estabelece as conexões necessárias para aprender e repassar esse conhecimento. Assim, cria-se o ambiente propício e arejado para o desenvolvimento de cada um em prol do grupo. Dessa maneira, a companhia não depende apenas da visão do alto escalão no instante de definir rumos, redefinir estratégias e encampar outras visões.
Os novos padrões de comportamento empresarial estão modificando a base do management mundial e, no guarda-chuva dessa dinâmica inovadora, comunicação e transparência respaldam as relações que se desejam dentro dos escritórios. Transmitir adequadamente a visão estratégica corporativa definirá a qualificação das diversas linhas de gestão. Esse momento definidor vai separar as boas das más empresas, as competitivas das ineficientes, as modernas das arcaicas, e por aí vai. É um funil que fará a seleção natural. A opção servirá, em última instância, para determinar a companhia que continuará no mercado.
As companhias centralizadoras e patriarcais não necessitam enfrentar, nem se submeter a esta revitalização, porque as decisões já vêm embaladas e resolvidas, sem espaço para opiniões e debates. Mas essas correm riscos, pois terão, em breve, de rever a filosofia, sob pena de serem pulverizadas pela velocidade da concorrência. Nesse debate que se faz em torno da gestão organizacional, é fundamental que se pense hoje para consolidar um futuro melhor e mais seguro. Não há outra saída.
Júlio Sérgio de Souza Cardozo é presidente da Ernst & Young Auditoria.