A Comissão Suprema Eleitoral egípcia informou hoje (15) que, nas primeiras horas de votação, a primeira etapa do referendo sobre a nova Constituição transcorre sem obstáculos.
A comissão explicou em comunicado que recebeu informações de que “100%” dos centros de votação nas dez províncias onde é realizado o referendo puderam atender os eleitores. Além disso, destacou que todos os colégios eleitorais começaram a receber os eleitores a partir das 8h locais (4h de Brasília).
Alexandria, a segunda maior cidade do país, havia registrado conflitos violentos ontem (15) entre opositores e apoiadores do texto da Constituição, mas a votação era tida como calma no início na manhã de hoje.
Um jornal local, de oposição ao atual governo, publicou em sua primeira página, publicou fotos de simpatizantes da situação portando facas e espadas em sua primeira página no dia da votação.
Hoje votam 26 milhões dos 51 milhões de eleitores do país, em dez províncias: Cairo, Alexandria, Dakahlia, Garbiya, Sharquiya, Assiut, Sohag, Assuã, o norte e o sul do Sinai.
O referendo foi dividido em dois dias, hoje e o próximo sábado, devido ao boicote de grande parte dos juízes egípcios, que são os encarregados por lei de supervisionar as convocações eleitorais.
Resultados oficiais não devem ser divulgados até o próximo sábado, mas espera-se que parciais e pesquisas possam surgir nas próximas horas, dando uma ideia da tendência geral.
Mursi
O presidente egípcio, Mohamed Mursi, votou no começo da manhã em uma escola no abastado bairro de Masr Guedida, no leste do Cairo. Já o patriarca da Igreja Ortodoxa Copta, o papa Teodoro II, votou em uma escola do bairro de Al Waili, também na capital, e embora tenha preferido permanecer na fila dos eleitores, estes lhe abriram passagem para que votasse, diz a agência estatal Mena.
O político de oposição e vencedor do Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, se manifestou via Twitter: “A adoção de um texto da Constituição divisor, que viola valores universais e liberdades é uma forma certa de institucionalizar a instabilidade e o tumulto”.
Histórico
O Egito tem sido palco de protestos diários e multitudinários favoráveis e contrários ao presidente Mohamed Mursi há semanas. Os problemas começaram em 22 de novembro, quando Mursi assinou decretos que lhe deram “superpoderes”, na medida em que eximem qualquer decisão sua de análise judicial.
Magistrados reclamaram, e Mursi chegou a se reunir com eles, mas não alterou os textos. O presidente se defendeu, dizendo que os decretos visavam apenas proteger a elaboração da nova Constituição.
No último dia 30, o texto foi aprovado, porém a assembleia constituinte estava dominada por islamistas pró-Mursi. Antes, os legisladores liberais e católicos tinham deixado as suas cadeiras, sob a alegação de que a maioria islamita não os deixava trabalhar.
Entre as cláusulas que geraram incômodo estão a que preserva boa parte dos poderes que o Exército tinha na era Mubarak, como aprovar o orçamento militar sem a supervisão do Parlamento.
Outro ponto controverso é a inexistência de garantias explícitas dos direitos das mulheres. Entre pontos vistos como positivos está a limitação do mandato presidencial a no máximo dois períodos de quatro anos.