Infelizmente, o par ideal não existe

Se você está procurando a pessoa ideal, desista. Ela não existe. O sonho que homens e mulheres nutrem de encontrar o companheiro perfeito geralmente acaba levando à frustração e à solidão. O segredo para uma união feliz é amar as diferenças e aprender a conviver com elas. Mas parece que as pessoas andam um pouco esquecidas disso e mesmo assim reclamam que não são felizes.

?O outro não é tudo o que falta para mim e nem eu sou tudo o que falta para ele?, diz a professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e psicanalista Rosa Maria Mariotto.

Para ela, compreender essa afirmação é um importante passo para encontrar um companheiro e para manter um relacionamento.

Rosa diz que é comum atender em seu consultório pacientes que reclamam da solidão ou do sentimento de insatisfação com o marido ou a esposa. Explica que a origem desse problema é cultural. Hoje, as pessoas estão mais narcisistas, muito ocupadas consigo mesmas. Cuidam da aparência, do trabalho, dos estudos e não têm tempo para dedicar aos outros.

Paixão e amor

Os relacionamentos geralmente começam de duas formas. Na primeira, as mulheres procuram alguém que as proteja, quase um pai, e os homens alguém que assuma um comportamento parecido com o de uma mãe. Na segunda, o relacionamento começa sob

o olhar narcisista. Busca-se no outro o que gostaria de ser e nunca conseguiu ou o que já foi um dia. Na verdade a pessoa ama a si mesma.

Quem gostaria de encontrar pistas para saber se um relacionamento vai dar certo ou não, pode esquecer. As relações geralmente começam sob o fogo da paixão e ela não deixa as pessoas enxergarem o outro com clareza.

Quando a paixão acaba, o espaço é ocupado pelo amor, ou pelo menos deveria. Se isso não acontece, os relacionamentos se desfazem. ?É preciso amar por causa das diferenças?, fala Rosa. Mas a situação é complicada porque exige que as pessoas deixem de ser narcisistas e se voltem um pouco para o companheiro. Esse é o momento em que muitos casamentos acabam.

As mulheres são as que mais procuram ajuda nos consultórios. Isto se explica porque sentem necessidade de compartilhar seus medos e anseios com alguém. A maior reclamação delas é o sentimento de eterna insatisfação. Quando encontram alguém com determinadas características, não é mais aquilo que desejavam e começam a idealizar um novo companheiro.

Algumas pessoas sozinhas conseguem ver que estão procurando companheiros que só existem na imaginação e não no mundo real e, aos poucos, mudam de atitude. ?Vale o velho ditado: A vida ensina?, comenta Rosa. Mas outras só conseguem mudar de postura com ajuda.

Relacionamentos modernos têm modelo diferente

Além da busca por uma pessoa que só existe na imaginação, as pessoas enfrentam também dificuldades porque os relacionamentos estão passando por um momento de transição. Antes havia um modelo a ser seguido. Não importava se fosse certo ou errado, não havia o que discutir, o que questionar. O processo era simples. Começava com o flerte e a paquera, depois vinha o namoro, seguido do noivado e do casamento. União para a toda a vida.

Mas o jovens de hoje experimentam um momento diferente, as regras estão bem mais flexíveis. Tudo ainda começa com flerte e a paquera, no entanto os caminhos que o relacionamento pode seguir são bem variados. Ainda tem gente que segue o padrão antigo, mas outros preferem as novidades como o rolo, o ficar, o morar junto, o casar e viver em casas separadas e até a separação.

Mas parece que essa falta de modelo está com os dias contatos. Para o doutor em psicologia e professor da disciplina de relacionamento amoroso da Universidade Estadual de São Paulo (USP), Ailton Amélio da Silva, o momento que a sociedade vive hoje é transitório, as pessoas estão experimentando novos tipos de relacionamento, mas em breve novas regras devem ser estabelecidas. ?Pode ser até a retificação do modelo antigo ou um novo?, diz.

Par certo

Mas enquanto esse novo modelo não chega, as pessoas precisam se adaptar. O professor também concorda que o primeiro passo para encontrar um amor é estar bem consigo mesmo e deixar de lado tantas exigências. Neste caso, vale a regra econômica de custo-benefício, um custo a cada cinco benefícios.

Outra dica importante é andar pelos lugares certos. Segundo ele, uma pesquisa revelou que 37% dos relacionamentos amorosos começam entre pessoas que já se conhecem, do círculo de amigos, trabalho ou amizade. 32% são de pessoas que foram apresentadas por alguém. 20% são fruto de paqueras em bares e 5% em encontros casuais, como viagens. Quem depositava suas esperanças na internet ou agências de casamentos deve repensar suas estratégias. Apenas 1% dos casos dão certo.

Ailton fala ainda que não adianta escolher uma pessoa que seja muito diferente. É preciso ter mais compatibilidade do que diferenças. Por exemplo, nível de escolaridade similar, valores, situação econômica, atração sexual e afeto. O próximo passo é investir as energias, dar sinais e mostrar que está interessado.

Depois da conquista, o desafio é manter o relacionamento. É comum ouvir que as pessoas depois de casadas relaxam e deixam de lado o cuidado com o outro. Os principais problemas são o comportamento crítico e exigente demais, relacionamento sexual insatisfatório, não dar apoio e atenção necessários. Mas o principal motivo do fim de um casamento é mesmo a traição. A segunda causa é o ciúme.

A falta de barreiras sociais, legais e religiosas também deixaram mais frouxo o laço do matrimônio. Por um lado é bom, porque as pessoas não precisam mais ficar sofrendo juntas, mas por outro, as relações ganharam um aspecto descartável. Para Ailton, as pessoas que quiserem manter o relacionamento devem seguir a velha fórmula católica. ?Amar e se respeitar na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença… devem entrar de cabeça e investir tudo na relação?, fala. (EW)

IBGE aponta crescimento no número de separações

Jovina Angélica Arcie, 82 anos, e Giocando Milani Ceccon, 77 anos, são casados desde 1952. O segredo da união que dura 53 anos, além do amor, é o respeito entre os dois e a capacidade de lidar com as diferenças. Da união resultou cinco filhos, 11 netos e três bisnetos. Mas não é todo mundo que consegue manter um relacionamento tanto tempo assim. Segundo dados de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Paraná havia 3.448.143 casados e 307.898 pessoas que desistiram da união legal. Além disso, o número de separações e divórcios cresceu entre 1991 e 2002.

Uma pesquisa do IBGE mostrou que o número de dissoluções de casamentos aumentou consideravelmente nos últimos anos. De 1991 a 2002 cresceu 23.470 (30,7%) o número de separações e 45.375 (55,9%) o de divórcios. O estudo aponta que o ingresso cada vez maior da mulher no mercado de trabalho e a sua independência financeira contribuíram para esse novo panorama.

A pesquisa revela também que de 1991 para cá a idade com que as pessoas contraem união estável aumentou. As mulheres se casavam em média aos 23.7 anos, mas em 2002 a idade média subiu para 26,7. Já os homens se casavam aos 27 anos e passaram a firmar a união legal aos 30,3 anos.

Os dados mostram ainda que no Brasil os casamentos duram em média 10,5 anos e os homens se separam com idade mais avançada do que as mulheres, 407 contra 38. Além disto, em 2002, a cada 10 mil habitantes, sete eram separados. (EW)

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