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Impeachment na Coreia do Sul guarda semelhanças com o de Dilma

A primeira mulher eleita presidente do país é alvo de um impeachment após gigantescos protestos populares. A principal empresa nacional é alvo de uma teia de corrupção que envolve parte do gabinete presidencial. Judiciário e legislativo assumem o protagonismo diante da crise política. Pode ser o Brasil, mas é também a Coreia do Sul.

Na manhã desta sexta-feira (pelo horário local), o Tribunal Constitucional sul-coreano tirou definitivamente do cargo a presidente Park Geun-hye, que já havia sido afastada pelo Congresso em dezembro. Em que pese o fato de os ritos processuais de impeachment serem distintos na Coreia do Sul e no Brasil, a queda de presidentes impopulares guarda bastante semelhança.

O impeachment de Dilma Rousseff teve o apoio de mais de 60% da população; o de Park, 77%. Ambos os países se arrastam em crise política há meses. As diferenças não param por aí.

Park chegou ao poder em 2012, laureada pelo legado do pai, o ditador Park Chung-Hee, morto em 1979. Eleita deputada pelo partido conservador em 1998, teve rápida ascensão em uma pujante Coreia do Sul. Ela abdicou de se casar e ter filhos, mas se dizia “mãe de todos os coreanos”.

Dilma ganhou destaque à frente da Casa Civil, a partir de 2005. No segundo governo Lula, foi chamada de “Mãe do PAC” pelo então presidente, padrinho da primeira eleição dela, em 2010.

O abrandamento do crescimento econômico, suspeitas de corrupção e o descontentamento social e político, porém, levam essas duas mulheres ao centro da crise política de seus países.

No caso de Park, a amizade de 40 anos com Choi Soon-sil era alvo de desconfiança entre os eleitores. A imprensa e a Justiça descobriram que a amiga da presidente, apelidada de “Rasputina”, teria utilizado de sua influência para obter mais de US$ 70 milhões de diferentes empresas.

O herdeiro e vice-presidente da maior empresa do país, a Samsung, Jay Y. Lee, está preso desde 16 de fevereiro, por suborno, desvio de dinheiro e perjúrio em conexão com cerca de US$ 37 milhões em pagamentos feitos pela empresa a entidades supostamente ligadas a Choi.

“Park ocultou completamente as intromissões de Choi nos assuntos do Estado e as desmentiu quando ficaram públicas”, afirmou o presidente interino da Corte Suprema, Lee Jung-mi, nesta sexta. Motivo suficiente, nas leis da Coreia do Sul, para a presidente ser julgada e afastada por abuso de poder e falta de transparência.

Ela também foi acusada de negligência em 2014, quando do desastre da balsa Sewol, no qual morreram mais de 300 pessoas. Park também é criticada por supostamente perseguir artistas de oposição.

Aqui no Brasil, o governo Dilma se viu envolvido na complexa trama de corrupção na Petrobras, investigada pela operação Lava Jato. Após a apertada reeleição em 2014, a economia degringolou, a inflação explodiu e o País mergulhou na mais profunda crise da história. Ainda que a petista tenha sido afastada pelas pedaladas fiscais, contra a sua chapa pesam suspeitas de financiamento de campanha irregular.

Assim como com Dilma, o governo de Park caiu à medida que o Judiciário e o Parlamento ganharam expressão. O New York Times, em sua edição de sexta, publicou: “Além da onda de raiva popular, o legislativo e o judiciário – duas instituições que foram mais fracas do que a presidência historicamente (na Coreia do Sul) – foram cruciais para o afastamento”. O jornal americano elogiou ainda o “amadurecimento” das instituições democráticas no país asiático.

Por fim, ambas as ex-líderes tinham postura considerada distante e centralizadora, fato que acelerou suas destituições. Em sua autobiografia, o político Chun Yu-Ok, antigo aliado e representante de partido de Park, disse que ela herdou a pior parte do pai. “Ela tem a obsessão com o poder e a intolerância à crítica”, escreveu ele.

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