Igreja tenta conter críticas após comentário sobre gays

A Igreja Católica tentou ontem conter as críticas após comentários do secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcisio Bertone, vinculando os escândalos de pedofilia envolvendo religiosos à homossexualidade. Bertone afirmou na segunda-feira, no Chile, que “muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia”. Mas, segundo ele, “muitos outros demonstraram que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”.

O porta-voz do Vaticano reverendo Federico Lombardi afirmou que Bertone não estava falando em geral sobre a pedofilia na sociedade nem fazendo afirmações psicológicas ou médicas. O secretário estaria “evidentemente” se referindo a estatísticas fornecidas pelo próprio promotor da Santa Sé encarregado de lidar com casos de abusos contra clérigos, explicou o porta-voz em comunicado. Lombardi citou algumas das estatísticas, divulgadas em uma entrevista de março de um jornal católico com o monsenhor Charles Scicluna, promotor para casos de abusos do Vaticano.

Lombardi notou que Scicluna disse que as alegações envolvendo “pedofilia em sentido estrito” representavam 10% dos casos, 60% envolvendo adolescentes em relações homossexuais, enquanto outros 30% envolviam adolescentes em relações heterossexuais. Segundo Scicluna, 300 dos cerca de 3 mil casos com que seu escritório lidou eram “atos de verdadeira e real pedofilia”.

Logo após o comentário de Bertone, grupos pelos direitos dos homossexuais no Chile denunciaram a “estratégia perversa” do Vaticano de “se eximir de sua própria responsabilidade ética e legal”, fazendo uma vinculação “espúria e nojenta”. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França afirmou que a associação era “inaceitável” e condenou a declaração.

A Igreja Católica sofre, em diferentes países, com várias denúncias sobre abusos envolvendo religiosos. Também tem sido criticada a lentidão nos processos para afastar padres envolvidos com abusos, inclusive na época em que o cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa, chefiava a Congregação para a Doutrina da Fé, responsável por esses casos. A Igreja afirma que o hoje papa agiu sempre com firmeza diante de denúncias do tipo.

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