É triste admitir o fato e, mais triste ainda, confessá-lo. O certo, porém, é que cada vez mais a civilização assume, sobretudo a partir da segunda metade do século vinte, um caráter nitidamente maquinal, mecanicista. Cada vez mais ela se transforma no reino ilimitado das máquinas, com suas engrenagens poderosas, dos computadores, com suas entranhas complexas, dos robôs, legionários impolutos da cibernética.

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No ritmo em que vamos, não está longe o dia em que não mais haverá lugar para o criador ou construtor dessas estruturas metálicas que executam um simulacro de vida, ainda que inanimada, artificial, passe o paradoxo. O próprio John Kenneth Galbraight assinalava há alguns anos que o ser humano estava progressivamente se transformando em criado da máquina. Eu substituiria o termo criado por servo, ou mesmo escravo. Assim, o humanismo que, afinal, é apanágio da condição humana, corre o risco tangível de ser substituído, destronado por um maquinismo exacerbado, se não doentio.

A máquina, em princípio, deveria ajudar o homem a realizar os seus trabalhos quotidianos, e substituí-lo em tarefas penosas ou insalubres, ou que envolvam riscos especiais. Mas o que acontece, com intensidade cada vez maior? As máquinas estão substituindo contingentes cada vez maiores de homens, realizando (com vantagem) todas as suas atividades, deixando-os inteiramente livres para não fazerem nada, para o usufruto do ócio ? desempregados. Com que roupa, perguntaria um pessimista crônico ? ou anacrônico?

Sabe-se que há hoje no mundo cerca de dois bilhões de desempregados. Mais da metade deles foram gloriosamente substituídos por máquinas. Não estará na hora de corrigir as políticas maquinais ou mecanicistas, dando prioridade àquilo que é prioritário ? o homem, o humanismo, o trabalho humano? Afinal, este foi prescrito emblematicamente no próprio texto bíblico: comerás o pão com o suor do teu rosto.

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