O grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch convocou nesta terça-feira a comunidade internacional para que forme uma comissão de inquérito sobre os assassinatos em massa cometidos pelas forças de segurança egípcias no ano passado, afirmando que eles provavelmente representam crimes contra a humanidade.

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Tendo como base uma investigação de uma ano sobre os incidentes que aconteceram após a derrubada do presidente islamita Mohammed Morsi em 3 de julho de 2013, o HRW pediu especificamente uma investigação sobre o papel do atual presidente, Abdel-Fattah el-Sissi, e de pelo menos dez oficiais de alta patente e chefes de segurança na morte de 1.150 manifestantes no período de seis semanas.

O grupo também pediu aos aliados do Egito que suspendam a ajuda militar e a cooperação com as autoridades e militares egípcios até que o governo adote medidas e encerre as violações aos direitos humanos.

O governo do Egito rejeitou o relatório, acusando o HRW de ser “tendencioso e não profissional”. Em comunicado divulgado por seu escritório de comunicação, o governo diz que os autores do documento trabalharam no Egito sem permissão, fato que chamou de “flagrante violação” da soberania do país.

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“Embora não esteja surpreso pelo relatório, tendo em vista os claros métodos e tendências da organização, o governo rejeita o documento e critica seu viés”, diz o comunicado, sem esclarecer o que entende por “viés”.

O documento de 188 páginas diz que seus autores descobriram que as autoridades usaram força excessiva e deliberada contra manifestantes políticos em sucessivos ataques contra suas reuniões.

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O pior incidente de assassinatos em massa aconteceu no dia 14 de agosto, quando autoridades abriram fogo contra uma manifestação pró Morsi na praça Rabaah al-Adawiyah, no Cairo. Segundo o HRW, o número de mortos foi de pelo menos 817 e provavelmente chegou aos 1.000, muito mais do que os 624 documentados anteriormente pelo organismo de direitos humanos egípcio. O grupo considera o episódio “o maior assassinato de manifestantes em um único dia na história recente”.

Dois integrantes do HRW, que partiram de Nova York no domingo, foram impedidos de entrar no Egito e tiveram de voltar antes do lançamento do relatório no Cairo. Autoridades disseram que eles foram barrados depois de o governo ter pedido a eles que adiassem sua visita até setembro. O Ministério do Interior egípcio disse nesta terça-feira que os dirigentes do grupo se recusaram a acatar o pedido e viajaram para o país.

Em videoconferência realizada de Genebra, Beirute e Nova York para o lançamento do relatório, executivos do HRW e pesquisadores disseram que o convite para que fossem ao país em setembro não foi transmitido aos integrantes do grupo antes do comunicado ministerial divulgado nesta terça-feira. Fonte: Associated Press.