Honduras escolhe novo presidente em clima de medo

As eleições de hoje em Honduras devem dar início ao desfecho de uma das crises de maior repercussão na América Latina dos últimos anos. Mas isso não é exatamente uma boa notícia. Apesar de o governo de facto e de os candidatos presidenciais se esforçarem para dar ao evento um aspecto de “festa eleitoral”, os hondurenhos vão às urnas em um ambiente de medo e repressão. Nas últimas semanas, TVs zelaystas tiveram seus sinais cortados e opositores foram perseguidos e ameaçados.

A questão é que as eleições, hoje, parecem ser a única solução possível para a crise. Tanto que, segundo o instituto Gallup, a votação tem o apoio de 80% da população. Ainda assim, segundo analistas, ela é um péssimo exemplo para o restante da América Latina. Afinal, após destituir o presidente por meio de um processo iniciado no Congresso, mas concluído nos moldes de um golpe de Estado, no dia 28 de junho, o governo de facto resistiu cinco meses, ignorando sua suspensão da Organização dos Estados Americanos (OEA) e driblando as pressões internacionais.

Agora, 4,6 milhões de hondurenhos votarão para cumprir o calendário eleitoral estabelecido ainda antes do golpe e eleger um novo presidente, vice, deputados e autoridades municipais. Os que defendem a legitimidade da eleição alegam que ela já estava marcada antes de junho e os candidatos definidos – com ou sem a crise os resultados seriam os mesmos.

O presidente deposto, Manuel Zelaya, diz que a votação é ilegítima e pede para os hondurenhos não votarem. Há algumas semanas, seu candidato César Ham desistiu de concorrer, mas o partido esquerdista Unificação Democrática rompeu com Zelaya para continuar na corrida eleitoral.

Além da divisão interna, a votação ampliou o racha no continente. De um lado, estão os países que a aceitam a eleição como a única solução possível para a crise hondurenha – EUA, Panamá, Peru, Colômbia e Costa Rica. De outro, estão os que a consideram a legitimação do golpe – Brasil, Venezuela, Argentina, Nicarágua e Paraguai.

A disposição da comunidade internacional em defender Zelaya, porém, esbarra na intenção do presidente deposto de realizar um referendo que servisse de apoio para a convocação de uma Constituinte.