O tema da reunião deveria ser “Inovação e Tecnologia”. Mas os chefes de Estado e de governo de 22 países da América Latina, Portugal e Espanha que se reunirão amanhã e terça-feira em Estoril na Cúpula Ibero-Americana vão mesmo é discutir o oposto: o atraso. Isso porque os assuntos predominantes do encontro, do qual participa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, serão o golpe, a crise política e as eleições em Honduras, além de inimizades regionais crescentes, como as vividas por Colômbia e Venezuela e por Chile e Peru, ofuscando questões econômicas e ambientais.
Essa “agenda informal” é o que mais de 700 jornalistas credenciados para o evento esperam ouvir dos líderes políticos. Lula chegou esta noite acompanhado do assessor da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Macedo Patriota, e os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo; Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia; e Franklin Martins, da Comunicação Social.
Mesmo com a ausência do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, um dos objetivos da cúpula é “estimular o diálogo” entre seu país e a Colômbia, de Alvaro Uribe. A ideia é desfazer o clima que paira entre os dois governos, em especial depois que o venezuelano ameaçou declarar guerra ao localizar supostos agentes secretos colombianos em seu território.
Outro tema relacionado à Colômbia, e que ainda gera desconforto entre os vizinhos latino-americanos, são as sete bases das Forças Armadas dos Estados Unidos no país. Uma das interrogações sobre a declaração final do evento é o tratamento que os 22 países da cúpula darão ao tema.
Honduras – O centro dos interesses, entretanto, parece ser a eleição em Honduras. Defensor de primeira hora do retorno do presidente deposto Manuel Zelaya, o governo brasileiro tem a chance de reverberar seu inconformismo diante do pleito, comandado pelo presidente de facto Roberto Micheletti. Conta a seu favor o apoio de um maior número de países – Colômbia, Peru e Costa Rica estão entre os únicos que, até hoje, haviam expressado a intenção de reconhecer o resultado das urnas.
Outra questão em aberto é saber como Portugal e Espanha – representada não apenas pelo presidente de governo, José Rodrigues Zapatero, mas também por seu rei, Juan Carlos – poderão influenciar a posição da União Europeia. Até o final da semana, a posição da comunidade europeia, informada ao Estado por Cristina Gallach, porta-voz do alto representante de Política Externa do bloco, o espanhol Javier Solana, era cautelosa. A UE decidira esperar as eleições, analisar sua organização e idoneidade, para então decidir se a legitima. “Nós veremos no momento oportuno, a partir do resultado das eleições e, sobretudo, da lisura do processo, se haverá reconhecimento ou não.”
Clima e economia – Com tantos conflitos emergentes, temas mais “inovadores”, como meio ambiente – a uma semana da abertura da 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas – e economia ficaram em segundo plano. Amanhã, representantes dos países ibéricos, além de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, discutirão meios de reabrir as negociações para um futuro acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul.
Zapatero e Lula têm especial interesse no tema: o primeiro transformou o debate em uma das bandeiras da futura presidência espanhola da União Europeia, a ter início em 1º de janeiro; já o Brasil vê nos europeus – além dos demais emergentes – uma alternativa ao esgotamento da Rodada Doha.