Lucimar do Carmo / GPP |
Com mudanças nos últimos anos, continua após a publicidade |
O Brasil tem mais de 169 milhões de habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São 83 milhões de homens e 86 milhões de mulheres. Mas as diferenças entre os dois sexos não param apenas na quantidade de pessoas. Homens e mulheres são diferentes em tudo. No físico, no social, no comportamento. Isso, porém, não é motivo para uma guerra dos sexos. Eles apenas se complementam.
As diferenças entre homens e mulheres sofreram diversas alterações durante a evolução da sociedade. Antigamente, as mulheres tinham o estereótipo de ser digna, honrada, sensível, emocional, esposa, mãe e ainda contribuir na educação dos filhos e dos cidadãos. Os homens eram mais inteligentes, mais racionais, corajosos, fortes, provedores da família e não poderiam expressar sentimentos.
Segundo Marlene Tamanini, professora do curso de Sociologia e membro do grupo de estudos de gênero do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a primeira mudança social vem com a entrada da mulher no mercado de trabalho. ?A partir da década de 1930, havia a idéia de que seria melhor a mulher entrar no mercado de trabalho como uma forma de controle de desperdício de energia. Elas estariam protegidas contra a criação de fofocas e intrigas do que nas próprias casas?, afirma.
O grande pilar da desigualdade entre os sexos era o controle da sexualidade da mulher, usado como uma forma de poder, na opinião dela. A desvinculação entre sexo e a reprodução nas décadas de 60 e 70, com a entrada dos anticoncepcionais, foi a grande mudança na sociedade e nas diferenças entre os dois sexos. ?A mulher se libertou da obrigação de ser mãe, o que possibilitou a sua saída de casa. A maternidade passou a ser encarada como direito e não como um dever?, esclarece a professora.
Com esse turbilhão de mudanças, o homem precisou se adaptar. ?O homem precisou ser mais participativo na família, aprender a dividir o saber e as questões econômicas?, avalia Marlene. Homens e mulheres passam por muitas transformações na sociedade atual. E eles estão perdidos com isso. ?As mulheres estão muito diferentes, o que as torna um desafio a ser conhecido. Eles tinham o modelo da mãe e da avó. Quando não conseguem entender as suas mulheres, se silenciam, o que não é uma característica masculina?, relata Marlene.
Apesar dos avanços e de uma aparente redução das diferenças, a mulher ainda carrega valores do passado. ?Na questão da reprodução, toda a responsabilidade ainda está focada na mulher. Ela é quem precisa tomar as precauções para não engravidar e muitas não gostam nem de falar sobre isso com o companheiro?, salienta a professora. As conquistas feministas não significaram liberdade e autonomia. ?Muitas mulheres sofrem com a violência doméstica. Algumas até vão na delegacia, mas depois tiram as queixas. A sociedade ainda discute os valores antigos de homens e mulheres. Muitos deles passam com naturalidade nos dias de hoje?, aponta Marlene.
Vida a dois: desejos opostos dentro de uma relação afetiva
O campo afetivo talvez seja o que mais causa discórdia entre homens e mulheres. A terapeuta de família e de casais Eneida Ludgero explica que os dois querem coisas diferentes de uma relação. A mulher deseja um homem carinhoso, atencioso e que seja um faz-tudo dentro de casa. O homem sonha com uma mulher independente, bonita, acolhedora, mas que cuide dos filhos e, depois de uma jornada de trabalho, esteja arrumada para ele. ?Os dois entram com altas expectativas em uma relação, que é um encontro de mundos diferentes?, define.
Eneida acredita que o envolvimento entre um homem e uma mulher esteja passando por uma fase de confusão. No passado, os papéis eram mais específicos. ?O conflito está grande porque as funções mudaram muito nos últimos anos. Essa confusão causa desencontros?, revela.
A comunicação é uma grande diferença entre os sexos e as mulheres reclamam que não são entendidas. ?Na linguagem, o homem usa apenas uma parte do cérebro, enquanto a mulher usa os dois hemisférios. A mesma frase para os dois pode ter um entendimento diferente. A mulher ainda coloca uma carga emotiva muito grande no que está falando. O homem é mais objetivo?, conta a terapeuta. Em uma relação sexual, as áreas cerebrais estimuladas são diferentes em homens e mulheres. O masculino tem mais partes ativadas.
Para ela, as pessoas devem prestar atenção no companheiro e fazer troca de carinhos. ?É necessário somar as diferenças?, ensina. (JC)
Fecundação: sexo do embrião é definido após terceiro mês
Até três meses depois da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, o embrião de homens e mulheres são iguais. A partir desse período é que se estabelece a definição do sexo, segundo José Ederaldo Queiroz Telles, chefe do serviço de anatomia patológica do Hospital de Clínicas.
As mulheres adultas sofrem oscilações no metabolismo em virtude da ação dos hormônios. ?Dependendo da quantidade de algum hormônio, há o comando de liberação de outros. Tudo está interligado. O hipotálamo, que controla as glândulas, faz parte do sistema nervoso?, explica Selene Esposito, professora doutora do curso de Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Homens e mulheres possuem diferente quantidade de neurônios. ?A área da fala no cérebro da mulher é mais desenvolvida e tem uma quantidade maior de neurônios do que nos homens. Por isto tem uma capacidade maior de comunicação?, enfatiza o professor doutor do curso de Biologia da PUCPR, Luiz Fernando Pereira.
Eles ressaltam que homens e mulheres podem ter características diferentes, mas que o exercício delas depende do ambiente onde vivem. ?Todos os animais nascem com um aparato genético e com algumas características estruturais e fisiológicas do grupo a qual pertencem. As características que não são essenciais podem não aparecer?, revela Selene. Para Pereira, este contexto mostra que os humanos são seres biopsicosociais. Tudo está interrelacionado. (JC)
Competitividade no mercado de trabalho
As diferenças na maneira de pensar e agir de homens e mulheres também estão presentes no mercado de trabalho. O sexo masculino é muito competitivo racional, segundo Sônia Gurgel, gerente de Recursos Humanos da Volvo, multinacional fabricante de ônibus e caminhões. ?Os homens são mais competitivos pela própria cultura machista da América Latina. E esse comportamento é difícil de ser deixado de lado?, afirma. Em ambientes de fábrica, os homens possuem pouco espaço para usar a sensibilidade. ?Ela não é bem-vista pelos demais e alguns sofrem com isso?, comenta. O homem no trabalho quer ser realizador, obrigatoriamente busca sucesso e deseja conquistar postos mais altos. Segundo Sônia, a mulher está preocupada em mostrar que é tão competente, ou mais, do que o homem. ?Ela ainda tem um sentimento de que precisa provar que é capaz. Mas essa briga não leva a nada. Todos têm seus objetivos e são eficientes na área em qua atuam?, observa. Ela explica que o sexo feminino usa a sensibilidade como uma forma de equilibrar as relações no ambiente de trabalho. ?Em algumas, até se percebe o uso manipulador dessa sensibilidade em busca de proteção, mas isto está em queda?, avalia. Na opinião dela, a mulher também é mais flexível.
A gerente acredita que a combinação das características dos dois contribui muito para o andamento de uma empresa. Para ela, não é vantagem transformar uma profissão essencialmente de um sexo. Ela cita o exemplo da enfermagem, na qual 90% dos profissionais são mulheres. ?Cria um tipo de preconceito e não explora as diferenças de forma positiva. Existem muitos enfermeiros que são excelentes profissionais?, declara. (JC)