Um dos mistérios mais intrigantes da evolução humana acaba de ser resolvido. Será que seres humanos modernos (Homo sapiens) e neandertais (Homo neanderthalensis) trocaram genes – se acasalaram – durante os milhares de anos em que conviveram na Europa e Ásia? A resposta é sim, segundo um consórcio internacional de cientistas que sequenciou o genoma neandertal.

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“Temos evidências muito fortes de que houve fluxo gênico (do H. neanderthalensis para o H. sapiens)”, declarou o pesquisador David Reich, do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Harvard, um dos autores principais do trabalho publicado hoje na revista Science.

“Fluxo gênico” significa transferência de material genético de um organismo para outro, via acasalamento. Segundo os autores, entre 1% e 4% do DNA contido no núcleo das células de seres humanos modernos foi herdado de neandertais. “É uma contribuição pequena, mas real”, disse Reich.

Os cientistas sequenciaram até agora 60% do genoma neandertal, utilizando amostras de DNA extraídas de três fragmentos de ossos, de três indivíduos Homo neanderthalensis. O mais novo foi datado em 38 mil anos e o mais antigo, 44 mil. Todos coletados da Caverna Vindija, na Croácia. O material genético foi isolado de 500 miligramas de pó de osso, obtidas pela raspagem dos fósseis com uma broca.

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Os cientistas compararam o genoma neandertal aos de cinco pessoas, de cinco regiões e etnias diferentes: do sul da África, do oeste da África, da França, da China e da Papua-Nova Guiné. Os resultados mostraram que as duas espécies eram extremamente semelhantes geneticamente.

Algumas variações que parecem ser exclusivas do genoma humano incluem genes relacionados ao metabolismo, funções cognitivas e morfologia do cérebro. Mas nada, a princípio, que o diferencie radicalmente do Homo neanderthalensis.

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Uma das surpresas foi descobrir que a herança genética dos neandertais estava presente no genoma dos europeus e asiáticos, mas não dos africanos. Isso sugere que o acasalamento ocorreu fora da África, provavelmente no Oriente Médio, envolvendo alguma população ancestral de Homo sapiens que migrava pela região e deu origem às populações modernas de não africanos, a partir de 80 mil anos atrás.