Depois da hashtag MeToo agora surge a MeTwo. A hashtag começou a ser usada por imigrantes de segunda e terceira gerações na Alemanha, que usam o Twitter para compartilhar os incidentes de racismo e lutam para serem aceitos pelos alemães.

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A hastag que ecoa a MeToo, do movimento contra assédio sexual, foi criada por Ali Can, um jornalista de 24 anos de ascendência turca, após o furor causado pela recente renúncia do astro de futebol turco-alemão Mesut Ozil da seleção alemã.

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Ozil, que é filho de imigrantes turcos, renunciou no começo do mês após duras críticas por sua decisão de posar para uma foto com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Em reação, Ozil atacou a federação alemã de futebol, seu presidente, os fãs e a mídia, condenando o que ele disse ser racismo e um peso e duas medidas para as pessoas com raízes turcas. “Sou alemão quando eu ganho e um imigrante quando perco”, disse.

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Can usou a hashtag MeTwo, pois ele queria mostrar que as minorias étnicas na Alemanha geralmente se sentem conectadas às duas culturas ou lugares ao mesmo tempo: a Alemanha e o país de origem de seus ancestrais.

Até o domingo, 29, cerca de 153 mil tuítes sobre incidentes de discriminação foram postados no Twitter, segundo a agência de notícias alemã DPA.

A Alemanha é o lar para mais de 4 milhões de pessoas de origem turca, que foram convidadas nos anos 60 a ajudar a reconstruir o país após a 2ª Guerra.

O debate também reflete as divisões na Alemanha sobre o recente fluxo de solicitantes de asilo muçulmanos. Desde 2015, mais de 1 milhão de imigrantes, a maioria de países afetados por guerra como Síria, Iraque e Afeganistão, entraram na Alemanha.

O grande fluxo ajudou a aumentar o sentimento antiimigração e o partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistou assentos no Parlamento alemão pela primeira vez no ano passado. Cerca de 20% das mais de 82 milhões de pessoas morando na Alemanha tem origem estrangeira.

“Precisamos redefinir o que isso significa para a Alemanha”, disse Can, que criou a hashtag MeTwo.

“Não importa quantos imigrantes queiram se integrar à sociedade alemã, eles não conseguirão fazer isso por conta própria”, disse. “Todos aqui necessitam de ajuda para a integração.”

Entre os tuítes que usam a hashtag MeTwo, muitos reclamam sobre discriminação com base na cor da pele ou pelo fato de usar um véu islâmico. Outros reclamam que, para os alemães, mesmo as crianças de terceira geração de imigrantes não são totalmente alemãs.

A usuário do Twitter Morni contou sua experiência na escola: “Apesar das boas notas, não houve uma recomendação para que eu me inscrevesse no secundário”, afirmou, lembrando o que a professora disse a sua mãe: “Sua filha usará o hijab e se casará cedo.”

Abeneezer Negussie tuitou: “Quando um estranho diz pra você após uma conversa agradável no trem ‘a cor de sua pele não é sua culpa, quer dizer, você não pode mudá-la’, você compreende que a pessoa acha que a cor de sua pele tem algo de erado”, disse.

Alguns escrevem que, apesar da dor e da humilhação que sofreram pelo racismo, a hashtag MeTwo tem elementos positivos e importantes.

“A coisa boa do debate sobre o racismo é que os imigrantes finalmente se juntaram à conversação”, disse o escritor alemão de origem turca Hatice Akyun. “Nossos pais fingiam não entender e saim com vergonha.”

No Twitter, comentários antiimigração logo começaram a seguir o movimento MeTwo. Mas alguns imigrantes também postam experiências positivas no país usando a hashtag MyGermanDream.

O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, também se envolveu no caso, escrevendo no Twitter: “É prejudicial para a imagem da Alemanha a impressão de que o racismo é socialmente aceitável novamente no país. Não podemos permitir que as pessoas com origem estrangeira se sintam ameaçadas. Juntos, devemos nos posicionar decisivamente pela diversidade e a tolerância.