Em meio à destruição de Bel Air, região central de Porto Príncipe, um caos generalizado se mantém instalado pelas ruas e escombros desde o terremoto do dia 12. É o lugar mais perigoso e devastado da cidade. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo caminhou pela região nos últimos dois dias. Apesar do monitoramento de tropas militares em algumas esquinas, virou rotina a briga pelas sobras dos prédios arruinados. Anteontem, três tiros foram ouvidos. Ontem, mais um. São disparos, na maioria das vezes, que partem da polícia do Haiti.
Quando preciso, as tropas estrangeiras tentam acalmar a população e espantar as gangues que se movimentam pela região. Esses grupos tentam controlar quem retira e o que é retirado dos escombros. O destino de qualquer sucata de melhor qualidade passa pelo crivo deles. Mais de duas semanas após o terremoto, os saqueadores ainda encontram, em meio a uma poeira sem fim, portas, janelas, cadeiras, restos de material de escritório, entre outras coisas, para tirar dali.
Além deles, os donos de casas e prédios destruídos tentam, aos poucos, encontrar alguma coisa. Ontem, um grupo de haitianos foi contratado pelo dono de uma imobiliária destruída para tentar ajudá-lo a salvar seus pertences. Segundo Tomaz, um dos “funcionários”, pedaços de corpos ainda são encontrados em meio aos destroços, misturados a notas fiscais e relatório de despesas.
Um pouco mais abaixo, em outro prédio destruído, seguranças privados protegem os escombros, enquanto um grupo de haitianos retira entulho e documentos. No meio do concreto, surge uma moto intacta. Uma retroescavadeira assume a tarefa de retirá-la da montanha de entulho. Uma multidão se aproxima, mas os seguranças afastam as pessoas com cassetetes. Em outro edifício, há um tronco humano em decomposição, confirmando que o número de mortos deve aumentar a cada dia.