Centenas de manifestantes furiosos com as tropas da missão de paz da Organização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) apedrejaram soldados do Nepal na segunda maior cidade do Haiti hoje, acusando os militares do país asiático de terem levado o cólera para o país caribenho. O Haiti vive uma epidemia de cólera que começou em meados de outubro e já matou quase mil pessoas. Os protestos começaram em Cap-Haïtien às 6 horas da manhã no horário local (9 horas de Brasília), disse o repórter Johnny Joseph, da televisão nacional haitiana.
Segundo ele, os manifestantes também jogaram pedras contra outras bases da ONU e delegacias da polícia em outros pontos da cidade. Os protestos paralisaram o porto de Cap-Haïtien. Segundo o porta-voz das forças de polícia da ONU, André Leclerc, os manifestantes também bloquearam o trânsito em partes da cidade.
As rádios Caribe e Kiskeya informaram que a polícia haitiana e tropas da ONU dispararam gás lacrimogêneo contra os manifestantes, dispersando mil deles que estavam em frente à base do Nepal. Joseph disse que pelo menos três manifestantes foram feridos pela polícia haitiana.
O Haiti nunca havia registrado antes um caso de cólera, e o medo, a confusão e a desinformação estão caminhando junto à epidemia. Ontem, o presidente do Haiti, René Préval, fez um discurso na televisão para afastar boatos e instruir a população sobre normas de higiene, como a necessidade de lavar as mãos com água limpa antes de manusear alimentos e beber água limpa e potável. Mas essas medidas não são seguidas em grande parte do país, porque a água limpa e tratada é escassa no Haiti. Dezenas de milhares de pessoas já foram afetadas pelo cólera, que já atingiu as maiores cidades haitianas, incluída a capital Porto Príncipe.
As suspeitas dos haitianos envolvem uma outra base militar de soldados do Nepal, perto do rio Artibonite, onde começou o surto de cólera. Os soldados do Nepal chegaram à região no começo de outubro e o Nepal teve recentemente um surto de cólera. Após uma investigação da Associated Press, a ONU reconheceu que existem alguns problemas de saneamento na base, mas afirma que os soldados não foram responsáveis pelo surto de cólera no Haiti. Nenhuma investigação independente foi conduzida.
Alguns políticos haitianos, inclusive candidatos à presidência, tomaram o incidente como pretexto para denunciar a presença dos 12 mil soldados da ONU no país, antes das eleições presidenciais de 28 de novembro. As informações são da Associated Press.