A enfermeira venezuelana Edilia Marrero, de 41 anos, chegou nesta segunda-feira, 25, a Pacaraima (RR), depois de uma temporada de trabalho em Buenos Aires, na Argentina, onde há demanda por profissionais de saúde. Na Venezuela, contou Edilia, cresce a incidência de aids, tuberculose e muitos estão deixando o ofício por riscos de contaminação. Os hospitais têm condições insalubres e nem sempre há retrovirais para tratar quem, como ela, já se feriu com agulha descartável no lixo.

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Há seis meses, ela não via as três filhas adolescentes que ficaram em Maracay com o pai, dono de uma loja de bebidas. Além do diploma de enfermeira, Edilia trazia da Argentina presentes para as meninas em duas malas: camisetas, biscoitos e remédios, como soro fisiológico, antiespasmódicos e analgésicos – escassos e caros na Venezuela. Na fronteira, Edilia correu risco de virar alvo de criminosos.

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Como se deparou com a passagem oficial bloqueada, ela recorreu aos coiotes de Roraima, que indicaram carregadores de bagagem e articularam a travessia. Do lado venezuelano, ela conseguiu um carro para levá-la a um ponto seguro em Santa Elena de Uairén. Por travessias assim, paga-se R$ 50 por mala, preço padrão da bagagem levada nos ombros e na cabeça ou empurrada em carrinhos.

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“Faz tempo que não venho à Venezuela. Nunca fiz essa travessia. Vocês não sabem o medo que dá, porque não estou acostumada”, disse. “Minhas filhas não queriam que eu viesse. Mas é uma angústia você ver suas filhas sem ter o que comer. É um temor, uma desgraça. Tristeza e impotência.”

Um dos carregadores de malas era Darwin Padrino, de 29 anos, que há quatro meses faz do ofício um modo de sobreviver em Pacaraima. “A gente ganha uma ajuda de R$ 20 por trajeto. Dá para nos mantermos e ainda mandar um pouco de dinheiro para a Venezuela”, disse Padrino, que é de Caracas.

Muitos carregadores moram nos abrigos da Operação Acolhida, caso de José Gregorio Altiaga, de 28 anos, e de Daniel José Maita, de 21, que carregavam sacos com suprimentos para algumas venezuelanas. “A gente se ajuda. Elas nos deram o que podiam dar”, disse Altiaga.

A relação dos carregadores com a Guarda Nacional Bolivariana é tensa. Eles estavam entre os venezuelanos de Pacaraima que apedrejaram soldados e incendiaram uma base no fim de semana. “A coisa está feia. Os guardas estão por todo lado e atiram com balas de borracha”, disse Javier Garcia Almeida, de 28 anos, que voltou para Pacaraima empurrando um carrinho com três malas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.