Oponentes e apoiadores do presidente egípcio, Mohamed Mursi, entraram em conflito hoje na praça Tahrir, no centro de Cairo. O confronto ocorreu porque dois protestos, um de cada corrente política, estavam marcados para o local.
Quarenta e uma pessoas ficaram feridas, de acordo com a agência de notícias estatal. Foi o primeiro caso de violência nas ruas desde que Mursi subiu ao poder, há cerca de 100 dias.
Uma testemunha explicou que os confrontos se desencadearam quando um jovem subiu em um palco montado em meio a uma jornada de protestos para gritar contra “o poder do guia espiritual”, em uma referência ao líder máximo da Irmandade, Mohamed Badie.
Nesse momento, jovens da Irmandade Muçulmana começaram a atacar a tribuna, enquanto, segundo a mesma fonte, cantavam o lema “atrás de Mursi há homens valentes”.
Encontro de protestos
Hoje dois protestos estavam marcados para a praça. A primeira foi organizada por cerca de 20 grupos liberais e revolucionários para pedir a renúncia de Mursi e exigir que a nova Constituição represente todos os egípcios.
Já a outra manifestação foi convocada pela Irmandade Muçulmana para absolvição de várias autoridades do antigo regime de Hosni Mubarak (que durou de 1981 até 2011), as quais foram absolvidas dois dias antes, pela morte dos manifestantes na chamada “batalha do camelo”, registrada durante a revolução egípcia.
Após os confrontos iniciados logo após a oração muçulmana do meio-dia, outros choques também ocorreram esporadicamente na praça.
Os simpatizantes da Irmandade Muçulmana representavam a maioria em Tahrir, enquanto os detratores do presidente egípcio se encontravam em uma rua próxima à praça.
Enquanto os partidários do chefe do Estado gritavam “te queremos, Mursi”, seus oponentes respondiam com palavras de ordem como “o povo quer a queda do governo do guia espiritual da Irmandade Muçulmana” e “Mursi, covarde, retire seus cachorros da praça”.
Diante deste cenário, os dois grupos arremessavam pedras, garrafas e coquetéis molotov uns contra os outros, além de trocarem socos e pontapés.
Na parte da tarde, os seguidores da Irmandade Muçulmana fecharam os acessos à praça e impediram a entrada dos manifestantes dos grupos liberais e revolucionários que chegavam.
País dividido
Os confrontos evidenciam uma divisão gritante na sociedade egípcia, entre os partidários da Irmandade Muçulmana, grupo islâmico ao qual Mursi pertencia antes de assumir à Presidência, e opositores ao presidente e também à organização, que é acusada de centralizar o poder no Egito.
Em comunicado, o movimento Jovens do 6 de Abril, um dos organizadores do protesto anti-Mursi, pediu aos partidários da Irmandade Muçulmana que fossem embora da praça e que interrompessem as agressões, advertindo o grupo islamita contra “a soberba com que trata ao resto das correntes políticas” e cobrando um controle de seus seguidores.
Para evitar mais distúrbios em Tahrir, os Jovens do 6 de Abril anunciaram sua retirada e pediram que seus simpatizantes fossem para a sede da Procuradoria Geral da Corte Suprema. A ideia era dar continuidade ao protesto, mas de forma pacífica.