Gripe: vacinas encomendadas passam de 1 bi, diz OMS

Países do hemisfério norte encomendaram até agora mais de um bilhão de doses de vacina contra a gripe causada pelo vírus A H1N1. “As encomendas de vacina feitas por países do hemisfério norte já superam um bilhão (de doses)”, disse a porta-voz da OMS, Melinda Henry, à agência France Presse. De acordo com a entidade, essa grande demanda, aliada a atrasos de produção, pode resultar na falta do produto e obrigar os governos que se prepararem para uma segunda – e possivelmente mais mortífera – onda de gripe suína no outono a tomar duras decisões sobre quem vai receber a vacina primeiro.

“Nos primeiros dias, haverá um estoque muito limitado de vacina. Não haverá estoque suficiente para vacinar as populações inteiras ou mesmo grandes proporções das populações”, disse Henry. Alguns países – dentre eles Grécia, Holanda, Canadá e Israel – encomendaram vacinas suficientes para fornecer duas doses do medicamento para todas as suas populações. Outros, como Alemanha, Grã-Bretanha e França, fizeram encomendas que podem cobrir entre 30% e 78% de suas populações.

Em julho, a OMS informou que 25 laboratórios farmacêuticos que anunciaram a intenção de produzir a vacina poderiam produzir até 94 milhões de doses por semana a partir de meados de outubro. A OMS revisou esse números para baixo quando as seis principais produtoras de vacina – que representam 85% da produção global – informaram que as cepas da gripe suína com as quais estavam trabalhando não se reproduziam com a velocidade esperada.

“A atual cepa da vacina pode produzir apenas entre 25% e 50% da estimativa original, o que significa 23 milhões de doses por semana, disse Henry. Testes clínicos não confirmaram que novas cepas que estão sendo desenvolvidas apresentarão produção mais alta e os resultados iniciais de uma delas, revisadas hoje pela OMS, não são encorajadores. Ainda existe uma grande dúvida se uma ou duas doses são necessárias para a efetiva vacinação contra a gripe.

Um laboratório chinês, o Sinovac Biotech, anunciou hoje que concluiu testes clínicos que mostram que sua nova vacina “resulta em boa imunidade após uma dose”. Mas vários especialistas dizem que doses duplas serão necessárias porque muitas pessoas não têm imunidade ao chamado “novo” vírus A H1N1.

Racionamento

Mesmo com essas incertezas, há uma considerável distância entre as encomendas e o potencial de produção nos próximos meses, uma defasagem que pode obrigar autoridades nacionais de saúde a racionar a vacina. “Os planejadores de políticas públicas ainda têm de definir quais serão os grupos que receberão a vacina”, disse Mark Miller, epidemiologista do Centro Internacional Fogarty, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

A maioria das autoridades nacionais e internacionais de saúde recomendam que profissionais de saúde sejam vacinados primeiro, porque eles são mais expostos ao vírus mas, acima de tudo, para assegurar que as instalações de saúde possam operar com a máxima eficiência durante os picos da infecção. Mas, além disso, não há regras universais.

“Os países devem, individualmente, observar suas próprias condições e se adaptarem a elas. Eles têm de decidir se querem interromper a transmissão, proteger a infraestrutura essencial ou reduzir a transmissão ou o número de mortes”, disse Henry. Cada uma dessas prioridades implica em estratégias diferentes e confere proteção a diferentes setores da sociedade. Alguns especialistas recomendam que todas as crianças em idade escolar e seus pais sejam vacinados para impedir que a gripe se espalhe, enquanto outros dizem que populações vulneráveis deveriam ter prioridade.

Tamiflu

Também hoje, a OMS informou que os governos pelo mundo podem manter seus estoques de Tamiflu, usado para combater a gripe suína, por mais tempo que o previsto inicialmente. Com isso, é possível preservar por mais dois anos os estoques de medicamentos que os governos começaram a estabelecer cinco anos atrás, em resposta a uma epidemia de gripe aviária.

Milhões das doses vendidas na época estão agora quase no limite da data de cinco anos de vencimento, quando deveriam ser descartadas. A porta-voz da farmacêutica Roche Claudia Schmitt afirmou que aproximadamente 220 milhões de tratamentos individuais de Tamiflu foram enviados para governos por todo o mundo desde 2004. Não se sabe quantos tratamentos ainda são guardados e quantos já foram usados.

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