Milhares de policiais isolaram ruas no centro de Atenas neste domingo e a parada militar que celebrou a independência do país foi realizada sob medidas de segurança sem precedentes. O aumento na segurança é resultado dos temores de que manifestantes realizassem protestos contra medidas de austeridade econômica adotadas pelo governo.
Pela primeira vez, o público foi proibido de participar do evento num grande trecho do trajeto, incluindo a área em frente do Parlamento, onde políticos e outras autoridades assistiram à marcha.
Os policiais, muitos dos quais com roupas de proteção, isolaram as ruas que levavam ao trajeto da parada. Apenas pessoas com convites especiais tiveram acesso à área. Os frutos mais baixos das laranjeiras nas calçadas do trajeto foram colhidas antes da marcha, aparentemente para evitar que fossem lançadas por manifestantes. As laranjas amargas, que só servem para fazer geleia, se tornaram os projéteis favoritos dos manifestantes durante protestos.
Milhares de pessoas costumam se aglomerar nas ruas do centro de Atenas para assistir à marcha de 25 de março, que marca o levante grego contra o Império Otomano, em 1821.
Mas a raiva da população em relação ao governo tem aumentado depois que as autoridades implementaram cortes de gastos e elevação de impostos por causa da grave crise financeira. Em outro feriado nacional, em outubro do ano passado, o presidente foi vaiado e uma parada semelhante foi cancelada por causa dos protestos. Desde então, políticos são alvo frequente de grupos irritados que gritam insultos ou jogam iogurte ou ovos quando eles aparecem em público.
A cerimônia deste domingo começou com o presidente Karolos Papoulias colocando uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido e com uma banda militar tocando o hino nacional. Mas um grupo de cerca de dez pessoas, que estava na parte inferior da praça Syntagma gritou “traidores”. O grupo foi rapidamente cercado por policiais antidistúrbio e gradualmente dispersado. A parada terminou sem mais incidentes.
A polícia informou que 27 pessoas foram detidas em várias partes de Atenas e três foram presas, uma por carregar uma tocha e duas por jogarem ovos contra uma marcha de estudantes no subúrbio litorâneo de Glyfada.
Os veteranos de guerra boicotaram a parada deste ano pela primeira vez, por se oporem às medidas de austeridade que provocaram cortes em salários e benefícios previdenciários e repetidos aumentos de impostos. O desfile de veículos blindados e o sobrevoo de aviões militares não ocorrem nas paradas desde 2010, por decisão do governo, que fez a opção para cortar gastos.
Os valores de “bravura, sacrifício e fé” dos que lutaram na revolução grega “nos mostra o caminho pelo qual podemos vencer a batalha nacional da reconstrução de nossa economia”, declarou o primeiro-ministro Lucas Papademos, após a parada.
A parada do Dia da Independência realizada por estudantes no sábado também foi realizada sob medidas draconianas de segurança. A polícia bloqueou uma grande área por onde os pedestres seguem para chegar ao evento. O público, incluindo os pais das crianças, só puderam ver o evento após a parada ter passado pelo Parlamento. A segurança também foi elevada em marchas realizadas em outras cidades do país.
Na cidade de Tessalonica, no norte, policiais mantiveram cerca de 500 manifestantes distantes de uma parada realizada por estudantes. Segundo autoridades, 25 pessoas foram detidas. Meios de comunicação também relataram distúrbios entre manifestantes e polícia na cidade portuária de Patras, oeste do país.
Em Iraklio, na ilha de Creta, uma parada estudantil foi cancelada depois que manifestantes avançaram sobre os policiais. A polícia usou gás lacrimogêneo e spray de pimenta contra os manifestantes, que realizaram sua própria parada.
A comemoração do Dia da Independência ocorre no momento em que a Grécia passa pelos estágios finais da aprovação das leis necessárias para assegurar o segundo pacote multibilionário de resgate. O país começou a receber os recursos desse pacote na semana passada.
Os empréstimos, provenientes de outros países da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional, são essenciais para que o país evite a falência. Assim que as leis forem aprovadas, a atual coalizão de governo vai dconvocar a realização de eleições gerais, que devem provavelmente ser realizadas no final de abril ou início de maio. As informações são da Associated Press.