Grécia vai às urnas em meio à desconfiança com governo

Os gregos votam no próximo domingo em eleições locais vistas como um referendo sobre o duro programa de austeridade do governo nacional. Resultados ruins da situação podem forçar o Partido Socialista a convocar novas eleições gerais, após apenas um ano no poder.

Nas últimas duas semanas, o primeiro-ministro George Papandreou disse que deve tentar um novo mandato se os eleitores não apoiarem os candidatos de sua sigla na disputa deste domingo. Essa perspectiva tem provocado temores nos mercados financeiros e críticas veladas dos emprestadores internacionais para o país.

As eleições ocorrem em meio ao crescente descontentamento com medidas econômicas duras tomadas pelo governo. Além disso, autoridades gregas têm que lidar com uma série de ataques à bomba realizada por um grupo extremista de esquerda, que tinha como alvos líderes estrangeiros e instituições pela Europa. Ontem a polícia grega acusou dois homens de vínculo com o plano terrorista e interceptou uma 14ª carta-bomba na capital grega.

Os eleitores, que já sofrem com a queda na economia nos últimos dois anos, agora temem que tanto a recessão quanto as medidas de austeridade continuem durante meses a prejudicar suas vidas, sem sinais imediatos de recuperação. “Essas eleições ocorrem em meio a um ambiente muito negativo para a opinião pública”, disse George Kyrtsos, comentarista político e publisher do jornal City Press. “As pessoas entendem que as medidas são necessárias, mas elas também precisam ver alguma luz no fim do túnel.”

Em maio, a Grécia escapou por pouco da bancarrota ao receber um pacote de ajuda de 110 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia (UE). Em troca, o país se comprometeu com um programa de austeridade e reformas de três anos. Esse programa levou a duros cortes nas pensões e nos salários do funcionalismo público. Além disso, foram criados novos impostos para itens que vão desde cigarros a alimentos básicos. As medidas enfureceram os sindicatos, levando a greves seguidas e a protestos pelo país.

Ao mesmo tempo, o programa de austeridade pesou na economia, que deve encolher 4% este ano. O desemprego bateu nos 12% em julho, ante 9,6% um ano antes, e os casos de falência de empresas aumentaram muito.

Oposição

Além do descontentamento com as políticas econômicas dos socialistas, muitos eleitores se mostram insatisfeitos também com a oposição. O Partido Nova Democracia, de centro-direita, é acusado de gerenciar mal a economia durante seus cinco anos e meio no poder. Analistas dizem que as eleições deste domingo podem ser marcadas por um alto índice de abstenção e de votos de protesto, no momento em que os gregos voltam suas costas para os dois maiores partidos nacionais.

Segundo pesquisas divulgadas no início de outubro, os socialistas mantinham uma sólida liderança, de entre 6 e 14,5 pontos porcentuais, sobre o Partido Nova Democracia. Mas dirigentes dos dois partidos reconhecem que essa vantagem encolheu nas últimas semanas. Esse foi um fator para Papandreou aumentar a aposta, dizendo que pode haver uma eleição nacional dependendo do resultado das disputas locais.

Analistas apontam que esse anúncio do premiê pode se voltar contra o próprio governo. Desde então, a perspectiva de instabilidade política na Grécia tem assustado investidores. Nas últimas duas semanas, a Bolsa de Valores de Atenas caiu cerca de 8%, por exemplo.

“Se os eleitores rejeitarem o governo, então o premiê não terá escolha”, previu um analista político próximo dos socialistas. Segundo ele, em caso de derrota, a melhor opção do governo é convocar logo uma nova eleição, para não ter de evitar constantes dúvidas sobre sua plataforma reformista. Não está claro, porém, o que decidirá a margem de vitória para o governo. Como são eleições locais, realizadas sob novas leis eleitorais e após uma reorganização grande das municipalidades gregas, os resultados podem ser controversos.

Nas duas principais cidades do país, Atenas e Tessalonica, o Partido Nova Democracia aparece com força para manter o comando das prefeituras. Na região central da Macedônia, a oposição também tem forte apoio. Em outros locais, como em Piraeus, cidade portuária próxima de Atenas, e em Heraklion, em Creta, os socialistas devem vencer. Na importante província da Ática, onde quase a metade dos gregos vivem, um independente local está na liderança, mas o adversário socialista parece ganhar espaço para forçar um segundo turno na disputa pelo comando provincial.

Mais importante, segundo os dois principais partidos, será o total de votos em nível nacional. Fontes do governo calculam que uma vantagem nacional de três pontos de margem em escala nacional será considerada uma vitória dos socialistas. As informações são da Dow Jones.

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