Autoridades civis e militares venezuelanas ocuparam na terça-feira as 35 lojas da rede de pequenos supermercados Día Día, como parte do endurecimento das sanções do governo para fazer frente ao crescente desabastecimento de alimentos e outros bens no país onde multiplicam-se as enormes filas em frente a todo tipo de comércio.
“Foi ordenada a ocupação temporária de toda a rede de supermercados Día Día, incluindo depósitos, distribuição e venda”, anunciou na terça-feira o deputado governista Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, à televisão estatal.
A explicar as razões da medida, Cabello afirmou que os proprietários cometeram “venda irregular de produtos” e que mantêm “mais de 2.500 toneladas de alimentos e produtos” armazenados.
O presidente Nicolás Maduro havia anunciado na véspera que duas cadeias de lojas seriam ocupadas e seus diretores e proprietários detidos por participar de “uma guerra” para desestabilizar seu governo.
Na noite de terça-feira, Maduro afirmou que os proprietários das empresas ocupadas são pressionados por seus adversários políticos a manter a “guerra econômica”. “Sei como é. Integrantes da direita chamam e pressionam os proprietários dessas redes de lojas, que neste momento estão sob supervisão e obrigadas a funcionar e a servir ao povo. Eles os chamam e dizem ‘resistam, resistam! Continuem que isso (o governo) vai cair'”, declarou o governante em seu programa semanal de rádio e televisão, “Em contato com Maduro”.
“Vou mostrar as provas disso nos próximos dias…tenho as provas, os nomes dos operadores”, afirmou. Maduro afirmou também que as cadeias de varejo ocupadas são apenas as primeiras. “Vamos fundo, porque este problema tem de ser resolvido pela raiz.”
A Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Caracas rechaçou as declarações do governo de que o setor privado é responsável pela crise econômica e pelo desabastecimento. A organização afirmou, em comunicado divulgado na terça-feira por meios de comunicação locais, que a inflação e a escassez na Venezuela são resultados da “instrumentação de um modelo econômico, o socialismo do século 21, que com sua trama de controles e obstáculos devastou a capacidade produtiva privada do país”.
A ocupação da cadeia de supermercados aconteceu depois de as autoridades terem iniciado, no final de semana, um procedimento administrativo contra a Farmatodo, a maior rede de farmácias da Venezuela. Foram convocados para depor na sede da polícia política o presidente e seis gestores do grupo.
No mês passado, as autoridades começaram a inspecionar empresas comerciais por causa da intensificação dos problemas de abastecimento de alguns alimentos e bens básicos, além das longas filas de consumidores nas portas de supermercados e lojas em todo o país.
A Venezuela enfrenta uma crise econômica caracterizada por uma inflação galopante, que no ano passado superou os 64%, graves problemas de escassez e recessão. Segundo analistas, a recessão deve se agravar neste ano devido a queda dos preços do petróleo, principal fonte de receitas do país. Fonte: Associated Press.