Depois de 88 dias de impasse político, a Itália pôs fim à mais longa crise institucional nos 70 anos da atual república. A coalizão formada pelo populista Movimento 5 Estrelas (M5S) e pelo partido de extrema direita Liga assumiu nesta sexta-feira, 1º, o poder, com o desconhecido e controvertido jurista Giuseppe Conte como primeiro-ministro. Entre as promessas do grupo, estão o aumento de gastos públicos e a deportação de 500 mil imigrantes.

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Escolhido como 65º premiê italiano, Conte terá a seu lado os líderes dos dois partidos que lhe dão sustentação: Luigi Di Maio como ministro do Trabalho e Matteo Salvini no Interior, postos-chave do governo. Ambos são vice-premiês.

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A posse ocorreu ontem, com o aval final do presidente Sergio Mattarella. Uma primeira reunião foi realizada para fixar as prioridades do novo gabinete, formado por 18 ministros, dos quais 5 mulheres.

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À mesa, estavam nomes como o de Giovanni Tria, jurista próximo da extrema direita e escolhido para ser o novo ministro da Economia. Em uma primeira declaração, ele se esforçou para tranquilizar os mercados financeiros indicando que a coalizão não planeja a saída da Itália da zona do euro e da União Europeia: “Na Itália, nenhuma força política quer abandonar o euro”.

A informação contrastou com as afirmações de Salvini, segundo o qual o novo governo vai procurar renegociar os tratados europeus – os acordos internacionais que estabelecem as regras de funcionamento da União. Para essa função o nome escolhido foi o de Paolo Savona, o mesmo economista de perfil eurocético cuja nomeação desencadeou a última crise política no país, com o veto imposto por Mattarella à coalizão.

No campo econômico, área de influência do M5S, uma série de medidas de caráter populista será adotada nas próximas semanas. Em um país minado pela dívida pública de 132% do PIB – a segunda mais elevada da UE, atrás apenas da Grécia -, o novo governo promete reduzir a idade mínima para aposentadoria, promover uma baixa generalizada de impostos (flat tax) e criar um programa de renda universal, chamado de Renda de Cidadania, de ¤ 780 por mês.

O custo geral do programa econômico oscila entre € 100 bilhões e € 150 bilhões, segundo economistas, mas o plano do governo não detalha de onde virão as provisões para tal. Uma das alternativas seria uma taxa sobre empresas que decidam transferir atividades para outros países, produzindo a custos inferiores graças à mão de obra mais barata. Já a hipótese de pedir a supressão da dívida italiana em mãos do Banco Central Europeu, evocada como alternativa, já foi abandonada.

Imigração

Em seu tom agressivo habitual, Salvini insinuou na quinta-feira que parte dos recursos viria do corte de gastos com programas de auxílio a imigrantes, hoje avaliado em € 5 bilhões. Agora no cargo encarregado da gestão da polícia, incluindo a de fronteiras, o líder da Liga prometeu expulsar 500 mil imigrantes. “As portas da Itália estão abertas para as boas pessoas e fechadas àqueles que vêm para fazer barulho”, advertiu, sugerindo o corte de gastos. “Eu estive com o primeiro-ministro e pedi a ele que preste atenção nesses € 5 bilhões anuais que são alocados para a manutenção dos candidatos a refugiados”.

Em Bruxelas, os líderes da UE manifestaram satisfação pelo fim da crise política italiana, mesmo sabendo que terão no governo local um crítico ferrenho. Segundo Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, todos estão “prontos para trabalhar com o governo” e “enfrentar os numerosos desafios estratégicos”, como o acolhimento dos imigrantes e a reforma da zona do euro.

Juncker alertou na quinta-feira os membros do novo governo que não aceitará que Bruxelas seja responsabilizada pela miséria no interior da Itália. “Não aceito que tudo o que vai mal no sul da Itália, no Mezzogiorno, seja explicado pelo fato de que a UE não faz o suficiente. Cabe aos italianos se ocupar das regiões pobres da Itália. Isso significa mais trabalho, menos corrupção, mais seriedade.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.