Os egípcios se preparam hoje para grandes protestos contra o governo, em uma escala não vista no país há décadas. No entanto, pela manhã a população tinha problemas para acessar a internet na maior parte do país, informa o jornal The Wall Street Journal.

continua após a publicidade

A polícia enviou reforços para sufocar os protestos. Ativistas da oposição apostam que uma grande participação no protesto no tradicional dia de orações no país muçulmano e nos dias anteriores desta semana pode ser decisivo para o movimento ganhar força, em sua campanha pelo fim do regime de três décadas do presidente Hosni Mubarak. Há o temor, porém, de que as forças de segurança reprimam violentamente as manifestações.

Pelo menos cinco pessoas já morreram nos protestos, segundo as agências de notícia. A morte mais recente ocorreu ontem, informou a Associated Press, quando forças de segurança mataram a tiros um manifestante na Península do Sinai, no mais recente indício de que os distúrbios se disseminam para áreas mais isoladas do Egito.

A Irmandade Muçulmana, maior e mais organizado movimento oposicionista do país, endossou as manifestações desta sexta-feira, em comunicado divulgado em seu site no dia anterior. “O grupo irá participar na manifestação marcada, para se alcançar as demandas populares”, afirmou a Irmandade Muçulmana. Isso mostra uma mudança no comportamento do grupo, que, segundo analistas, pode mobilizar milhões de pessoas, mas até agora resistia a jogar seu peso institucional para apoiar os protestos.

continua após a publicidade

Na noite de ontem, o prêmio Nobel da Paz e ativista pela democracia Mohamed ElBaradei retornou ao Egito para participar dos protestos. Ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ElBaradei é visto como uma das poucas figuras seculares liberais com poder para desafiar o establishment.

A mídia estatal procurou ontem minimizar os protestos nas ruas, alertando para o risco de caos no país. Analistas disseram que aparentemente o regime busca assustar os cidadãos, muitos dos quais participam em atos políticos na rua pela primeira vez em suas vidas.

continua após a publicidade

Dicas

Um jornal egípcio independente publicou em seu site na noite de ontem dicas para os manifestantes de primeira viagem ficarem em segurança. O diário recomendou que eles levem uma toalha molhada, para se proteger do gás lacrimogêneo, além de sugerir às moças que prendam o cabelo, para evitar que ele seja agarrado pela polícia antidistúrbio.

O governo tomou passos sem precedentes para limitar a capacidade dos manifestantes se organizarem e se comunicarem. O sistema de metrô da cidade foi fechado e o acesso à internet tem problemas. É impossível também enviar mensagens de texto por celular em boa parte do país.

Mais cedo hoje, os Estados Unidos, que têm demonstrado maior apoio aos manifestantes nos últimos dias, denunciaram a ação oficial. A mensagem de Washington foi enviada pelo site de mensagens breves Twitter, que tem tido uma importância grande na organização de protestos em vários países árabes.

“Nós estamos preocupados com o fato de que os serviços de comunicação, incluindo a internet, a mídia social e até este tweet (mensagem breve) estejam sendo bloqueados no Egito”, escreveu o porta-voz do Departamento de Estado P.J. Crowley às 5h30 (horário do Cairo). O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, advertiu hoje o governo do Egito para o fato de que “a liberdade de expressão deve ser totalmente respeitada”.

Em uma demonstração do temor de que ocorram distúrbios, a Federação de Futebol do Egito anunciou ontem que estava adiando todas as partidas marcadas para hoje e para amanhã, citando razões de segurança. As informações são da Dow Jones.