Para o governo de fato de Honduras, a culpa pelo novo impasse envolvendo o presidente deposto, Manuel Zelaya, é do texto do pedido de salvo-conduto emitido pela diplomacia mexicana. Pelo menos foi essa a justificativa dada por funcionários interinos. O documento, afirmam, qualifica Zelaya de “presidente” e tacitamente desconhece a legitimidade do regime imposto após o golpe – linguagem que teria provocado a ira do líder de fato Roberto Micheletti.
“A redação do pedido era absurda. Não havia nem sequer alusão ao governo hondurenho”, disse uma fonte próxima a Micheletti que pediu anonimato. Questionado, porém, sobre o que poderá fazer o regime interino ceder e autorizar a saída de Zelaya, o funcionário afirmou que “isso ainda não foi decidido”. Na nota oficial, o governo mexicano afirma ter “a honra de informar que decidiu receber em seu território o senhor presidente José Manuel Zelaya Rosales”, junto com sua mulher, filhos e um assessor.
O regime de Micheletti não é tratado de “governo de fato”, mas o documento reconhece Zelaya como presidente constitucional. “Estávamos dispostos a cooperar, mas a nota da embaixada mexicana…”, disse a autoridade hondurenha. O governo de fato já usou antes pretextos banais para camuflar motivações políticas. No auge da crise, por exemplo, o próprio Micheletti anunciou na televisão hondurenha que suspenderia o estado de sítio, mas a ordem só foi publicada cinco semanas depois, sob o argumento de que a impressora do diário oficial “estava quebrada”.