Diante da gravidade da situação política-institucional na Bolívia, o governo brasileiro enviou a La Paz o ministro-interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, e o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, para tentar equacionar uma solução negociada entre a equipe do presidente boliviano, Evo Morales, e a oposição. Pinheiro Guimarães e Garcia desembarcam em La Paz à tarde, informou uma fonte do Palácio do Planalto, e terão uma agenda aberta. Em princípio, eles tentarão se reunir ainda nesta quinta-feira (11) com autoridades do governo da Bolívia.
Do ponto de vista do Itamaraty, o país vizinho está à beira de uma guerra civil. O governo não pode contar com a lealdade das Forças Armadas para proteger efetivamente os prédios públicos e o Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), que tornaram-se alvos de ataques de setores oposicionistas nos últimos dias. Os militares não querem assumir a função de conter os manifestantes, sob o argumento de que essa atribuição seria da polícia. Escaldados, os comandantes temem que o governo não venha a assumir a responsabilidade final de possíveis conflitos de militares com civis.
O Itamaraty avalia que a única saída para a crise seria um recuo do governo boliviano em duas questões – a realização em dezembro próximo de um referendo sobre a Constituição, que foi elaborada e aprovada exclusivamente pelo partido do governo, e o corte dos repasses aos Departamentos (Estados) de uma parcela da receita do imposto que incide sobre a produção do gás. O presidente Evo Morales resiste.