O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse hoje que o governo dos Estados Unidos não avisou, de maneira formal, que seguiria defendendo sanções contra o Irã, mesmo com a possibilidade de um acordo firmado entre os governos brasileiro, turco e iraniano. “De maneira formal, não”, disse Marco Aurélio, ao deixar a mesa de debate do 31º período de sessões da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), em Brasília.
“Nós tivemos, obviamente, alguns indícios disso. Por onde o presidente Lula passava, havia informação oficial por parte de governos locais de que autoridades do mais alto nível do governo norte-americano tinham tentado desaconselhar qualquer solidariedade com a política que Brasil e Turquia vinham desenvolvendo.”
Segundo Garcia, isso ocorreu na Rússia e no Qatar, e em outros países. “Houve a tentativa sistemática de desaconselhar uma iniciativa de paz, que era aquela que nós estávamos patrocinando.”
O assessor especial reiterou que o governo brasileiro segue roteiros definidos pelo próprio País e rebateu críticas de quem considera “ingênua” a disposição de firmar acordo com Teerã. “O ministro Amorim replicou de forma muito pertinente que ingênuo é aquele que acredita nos relatórios de inteligência.”, disse. “Nós não negociamos em nome deles, EUA. Negociamos em nome do Brasil e da Turquia, e em nome dos interesses que consideramos da comunidade internacional”, defendeu.
Críticas
Marco Aurélio voltou a criticar a adesão de sanções contra o Irã. “Vamos frustrar esse primeiro passo negociador, e, em segundo lugar, ir para um caminho que não traz nenhum resultado concreto, a não ser satisfazer alguns grupos radicais.”
Sobre as críticas do governo americano ao acordo, Marco Aurélio disse que “uma das interpretações que tem sido frequentes é que incomoda a certos setores do governo norte-americano que países como Turquia e Brasil participem da resolução de questões internacionais, onde outras potências fracassaram.” Questionado se essa seria a sua interpretação dos fatos, respondeu: “Em certa medida, isso pode ser verdadeiro”.
Ele negou, porém, que as relações bilaterais Brasil-EUA tenham ficado estremecidas após o episódio. “É normal (haver divergências), o anormal é que essas relações estejam sempre em lua de mel.”