A Ford anunciou que reduzirá ainda mais sua produção de veículos na América do Norte neste ano e que já não espera atingir a meta de voltar a ser lucrativa em 2009. Os maiores cortes de produção serão feitos nas linhas de picapes e veículos utilitários esportivos (conhecidos nos Estados Unidos pela sigla "SUVs").
Com a alta dos combustíveis, as vendas desses modelos despencaram. De outro lado, a Ford planeja aumentar a produção de vários modelos menores, que têm mostrado bom desempenho de vendas, como Ford Focus, Fusion, Edge e Escape.
A montadora agora planeja produzir 690 mil veículos na América do Norte no segundo trimestre, 20 mil a menos em relação às estimativas anteriores, que já haviam sofrido um corte de 101 mil unidades durante o trimestre. No terceiro trimestre, a Ford reduzirá a produção em mais 15% a 20% em relação ao mesmo período do ano passado e ainda prevê um corte de 2% a 8% no quarto trimestre.
O anúncio ocorreu um mês depois de a Ford ter divulgado um lucro líquido de US$ 100 milhões no primeiro trimestre, um desempenho bem superior ao esperado pelos analistas do mercado. O resultado positivo foi conseguido graças ao corte de despesas e à força das operações internacionais da montadora.
O comunicado de hoje põe em foco o acelerado ritmo de deterioração do ambiente em que operam as montadoras dos EUA, na medida em que os preços do petróleo alcançam recordes e os preços do aço elevam os custos de produção. Só nas últimas semanas, a participação de mercado das picapes de grande porte caiu de 11% para 9%, enquanto a dos grandes SUVs baixou de 6,8% para 4%.
"Parece-nos que chegamos ao ponto decisivo em que os clientes começam a se desfazer desses veículos num ritmo acelerado", disse o presidente executivo da montadora, Alan Mulally. "Com base nas projeções para os preços dos combustíveis, não prevemos uma rápida virada na situação da empresa", afirmou.
Até o mês passado, Mulally repetia que a companhia voltaria a ter lucro anual em 2009, mas agora admitiu que isso "vai demorar mais do que o esperado". Ele declarou que a Ford continuará a oferecer incentivos às demissões em cada uma de suas fábricas, mas não tem planos de criar outro programa de demissão incentivada com abrangência em toda a companhia. O executivo deixou aberta a possibilidade de fechar uma fábrica nos EUA.
O anúncio da Ford levantou questionamentos sobre como a General Motors (GM) e a Chrysler vão enfrentar este ano. A GM fez planos sobre uma recuperação das vendas no segundo semestre, ao passo que a Ford já disse que não prevê tal retomada. A Chrysler, por sua vez, depende do mercado norte-americano para a maior parte de suas vendas e tem um portfólio dominado por picapes, SUVs e Jeeps, todos com elevado consumo de gasolina.