A estimativa de famintos no mundo caiu pela primeira vez em 15 anos, mas o recente aumento dos preços dos alimentos pode pôr em risco as metas para o desenvolvimento no mundo, informou hoje a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O número de pessoas cronicamente desnutridas caiu para 925 milhões este ano. O número é 9,6% inferior ao registrado em 2009, de 1,023 bilhão de famintos.
A FAO informou que o resultado foi obtido pela melhoria na economia mundial e pela queda nos preços internacionais de alimentos. O maior avanço ocorreu na região da Ásia e do Pacífico, onde o número de cronicamente famintos caiu 12%, para 578 milhões em 2010, segundo a entidade. Ainda que esta região concentre o maior número de famintos do mundo, o desenvolvimento econômico na Índia e na China, que representam 40% do total do avanço na área, tem sido o principal fator a impulsionar a queda nos níveis da fome global. A FAO espera que o número melhore ainda mais este ano.
No entanto, o número de pessoas vivendo sem comida suficiente permanece “inaceitavelmente alto”, em parte pelas crises econômica e de alimentos ocorridas em 2008 e 2009, notou a FAO. A produção recorde de cereais reduziu os preços, em comparação com os picos de dois anos atrás, quando uma explosão nos preços causou distúrbios em vários países. Porém, o recente aumento nos preços dos alimentos, caso permaneça, irá criar mais obstáculos para a redução da fome, alertou a entidade.
Os preços dos alimentos subiram para seu nível mais alto em dois anos no mês passado, saltando 5% em agosto, por causa de um forte aumento nos preços do trigo, segundo dados da FAO. Isso causa o temor de que pessoas nos países mais pobres sofram. Um caso recente foi a alta de 30% no pão em Moçambique, que levou a protestos durante os quais sete pessoas morreram e mais de 200 se feriram.
O índice de preços de alimentos da FAO esteve em média em 176 pontos em agosto, quase nove pontos acima de julho. Com isso, o índice chegou a sua máxima desde setembro de 2008, mas ainda 38% abaixo de seu pico, em junho daquele ano.
Mundo em desenvolvimento
Apesar dos avanços em alguns países, a fome no mundo em desenvolvimento também aumentou em geral, em comparação com 1990-92, quando o número de famintos nesses países totalizava 827 milhões, comparados com os 906 milhões deste ano. O restante dos famintos do total de 925 milhões vive no mundo desenvolvido.
Dois terços dos famintos do mundo vivem em sete países – Bangladesh, China, Congo, Etiópia, Índia, Indonésia e Paquistão. Com a previsão de que a população mundial aumente ainda mais, crescerá também a pressão sobre os recursos alimentares, lembrou a FAO. A entidade, sediada em Roma, convocou uma reunião especial para o dia 24, a fim de discutir a situação dos crescentes preços da comida no mundo. As informações são da Dow Jones.