O Centro Europeu de Física de Partículas (CERN) inaugurou nesta quarta-feira (040 uma nova era para a prospecção científica ao anunciar o descobrimento de uma partícula consistente com o “Bosón de Higgs”, a chamada “partícula de Deus”, que abre novos e mais importantes desafios para a física.
Após a apresentação pública dos resultados dos dois experimentos concebidos para achar o “Bosón de Higgs”, o diretor-geral do CERN, Rolf Heuer, confirmou que “o mais provável” é que a partícula encontrada seja a defendida pelo físico Peter Higgs, considerada chave para a explicação da formação do Universo.
O “Bosón de Higgs” é o que daria massa ao resto das partículas e o que, nesta lógica, teria permitido a formação do Universo e de tudo que existe nele.
No entanto, Heuer e os porta-vozes dos dois experimentos em questão – CMS e ATLAS – optaram por tratar o assunto com prudência. Isso porque, apesar de se tratar de uma partícula nunca vista antes e que teoricamente se atribui ao “Bosón de Higgs”, essa nova descoberta poderia ser um tipo diferente de “partícula de Higgs” e não exatamente a procurada.
“Se não fosse cientista eu diria que encontramos (o Bosón de Higgs)”, admitiu Heuer, que em seguida destacou que esta descoberta, correspondente ou não com a teoria de Higgs, representa um avanço fenomenal na compreensão da natureza.
“Se estivermos diante da partícula descrita por Higgs é como se tudo acabasse aqui. Mas, se tratar de outro tipo de “Bosón de Higgs”, estaremos apenas abrindo a possibilidade para desenvolver uma nova física, além do atual modelo padrão”, afirmou à Agência Efe o pesquisador do CERN Juan Alcaraz.
Este fato explica porque os físicos presentes na conferência se mostraram tão entusiasmados com ambas as possibilidades. O certo é que com o nível de certeza alcançado hoje, a possibilidade desta nova partícula não ser a de “Bosón de Higgs” é de uma entre três milhões.
Entre os presentes na conferência estavam quatro dos seis teóricos que desenharam o modelo padrão da Física nos anos 60, incluindo o próprio Higgs, de 83 anos, que só falou na hora de cumprimentar os pesquisadores do CERN. Higgs chegou a ser questionado duas vezes pelos jornalistas presentes, mas preferiu não comentar suas impressões sobre o momento que estava vivendo.
O físico e porta-voz do experimento CMS, Joe Incandela, disse à imprensa que ainda “há grandes incertezas” e, por isso, “é muito cedo” para dizer que se trata de um “Bosón de Higgs” do Modelo padrão.
Pelo experimento ATLAS, Fabiola Gianotti disse que agora “continuará buscando respostas em todas as direções”, sem excluir nenhuma possibilidade.
Fabiola destacou a importância dos dois experimentos terem alcançados resultados “totalmente compatíveis” de forma totalmente autônoma um do outro. Segundo a pesquisadora, a ideia agora é consolidar estes resultados de maneira individual para combiná-los em uma etapa posterior.
Os dados em que se baseiam os experimentos foram obtidos com o Grande Acelerador de Hadrones (LHC) do CERN, situado na fronteira franco-suíça, onde são produzidas 40 milhões de colisões de prótons por segundo, das quais se registram e analisam entre 300 e 600, a um nível de energia que não pode ser reproduzido por nenhuma outra máquina.
O porta-voz do experimento CMS, Joe Incandela, utilizou uma metáfora para explicar essa busca: “É como uma piscina olímpica cheia de areia, onde somente poucas centenas de grãos são dignas de estudo”.
Segundo a teoria de Peter Higgs, essa partícula seria o primeiro “bosón” fundamental, ou seja, que não está composto por partículas menores.
Nos próximos meses, os físicos do CERN estarão dedicados na investigação das propriedades desta nova partícula “para entender bem o poderemos encontrar”, explicou Fabiola Gianotti.
No entanto, esmiuçar esta partícula até o mais ponto mais profundo poderia demorar anos, já que durante este processo os pesquisadores “poderiam descobrir algo totalmente diferente” e pôr em questão o que hoje se considera uma evidência.
Para tentar chegar mais longe o mais rápido possível, a direção do CERN decidiu nas últimas horas prolongar por três meses o funcionamento do LHC, que devia ser apagado em pouco tempo.
Com esta confirmação, o acelerador seguirá funcionando até o final de ano e depois deverá entrar em um longo período (aproximadamente dois anos) de manutenção.